À altura do respeito profissional que faz por merecer, o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, talvez o mais rigoroso dos colegas que já passaram pela função, critica hoje duramente o seu jornal pela forma como deu a história das fotos do dinheiro do dossiê.
As suas críticas valem sem tirar nem pôr para o comportamento dos outros órgãos de mídia no episódio. A diferença – a grande diferença – é que a Folha pelo menos torna públicas as avaliações de seu crítico.
Os juízos de Beraba coincidem com os que venho publicando sucessivamente neste espaço desde a irrupção do caso. A saber:
A mídia fez a coisa certa ao divulgar as fotos e ao não divulgar quem as vazou, pedindo para não ser identificado. Aceito o pedido, seria inaceitável ignorar o compromisso.
A mídia fez a coisa errada – e ponha-se errada nisso – ao compactuar com a farsa montada pelo delegado PF Edimilson Pereira Bruno para a explicar o vazamento: um suposto furto do material de sua escrivaninha. Sempre preservando o sigilo da fonte, a imprensa tinha a obrigação de contar a falsidade que ela fabricara para se preservar. Para isso, não seria necessário nominá-la nem revelar a sua ocupação.
Beraba cita a defesa da editora-executiva da Folha, Eleonora de Lucena, para quem o jornal ‘agiu com correção, rigor e transparência’. Segundo ela, omitir as palavras do delegado, que falava on the records em furto e negava a sua participação do caso ‘significaria censurar uma declaração pública do protagonista do evento’.
Tem toda a razão.
Mas, ainda segundo ela, ‘qualquer outra ressalva ou adendo representaria a quebra do compromisso de sigilo da fonte assumido pelo jornal’.
É o caso de comentar: fala sério!
Quando um jornalista fica sabendo, pela boca da própria fonte, que ela está mentindo, é seu dever elementar expor a mentira. Isso não representaria quebra de compromisso coisa nenhuma.
Por não ter contado a verdade sobre o vazamento – preservado o nome do vazador – a mídia se acumpliciou com um trapaça.
Tanto que o ombudsman rebate:
‘A Folha podia ter publicado as fotos com a informação de que as tinha recebido de uma fonte que não podia aparecer. Não precisava coonestar a farsa armada pelo delegado.’
Essa é a tecla que venho martelando. Simples assim.
Para reflexão do eventual leitor, transcrevo, assinando em baixo, o fecho da coluna de Beraba:
‘A imprensa deixou claro nesta eleição que, apesar do amadurecimento experimentado nas últimas duas décadas, continua preferindo uma fofoca, um bate-boca, um jogo de cena, uma pesquisa, uma pauta subordinada aos caprichos dos marqueteiros, ao trabalho estafante de pensar, refletir, analisar e investigar. Nesse sentido, ela sem dúvida também contribuiu para o clima deteriorado neste fim de campanha eleitoral.’
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