O comandante do Batalhão de Operações Especiais, Bope, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Mario Sergio de Brito Duarte, afirma hoje em artigo no Globo (“O Bope vai investigar”) que o livro Elite da Tropa, lançado ontem no Rio, foi produzido de olho nas vindouras eleições. Jornais e revistas deram grande espaço à divulgação do livro. Devem aos leitores todos os esclarecimentos. Ou apurar o que há de verdade nessa acusação, ou repelir como insinuação a manifestação do oficial da PM.
Mas há no texto a referência a uma questão criminal, relacionada à explicação, dada pelos autores, de que partiram de fatos verdadeiros de que foram testemunhas, ou que chegaram a seu conhecimento, mas os misturaram ficcionalmente de tal maneira que nada possa ser especificamente identificado:
“Será que os dois capitães [um da reserva, Rodrigo Pimentel, outro da ativa, André Batista; o outro autor é o antropólogo Luiz Eduardo Soares] assistiram a quaisquer daquelas coisas horrendas? Será que não são eles mesmos os criminosos? A confissão escamoteada e remunerada (o livro deverá render muito) os isenta dos crimes que podem ter cometido? Ora, se tudo isso for verdade, há débitos com a lei que precisam ser resgatados”.
Duarte ameaça:
“Caberá ao Bope colaborar para a elucidação dos fatos, desmisturando-os, descombinando-os e descobrindo-lhes autoria, para que [….] não sirvam somente para escandalizar uns e enriquecer outros. Para isso, o Batalhão espera contar com a colaboração dos próprios autores e já adotou providências iniciando a recuperação dos registros das intervenções dos dois oficiais, durante todo o período que estiveram entre seus ´homens de preto´.”
Essa linguagem intimidatória é característica do que antigamente se chamava de “linha-dura”. Mas não dispensa indagações e respostas. Sobretudo por parte do Globo, primeiro a divulgar o livro em duas páginas diagramadas com senso de espetáculo (fundo preto). O jornal precisa fazer agora o que fez com uma carta recebida na semana passada do ex-governador Anthony Garotinho: esclarecer ponto por ponto.
Seria um grande equívoco tratar o assunto como briga interna da Polícia Militar. Não existe nada na atividade da PM que não seja de interesse público.