Se é de quantidade que se trata, o leitor não tem do que se queixar. De sábado a segunda, Folha, Globo e Estado publicaram pelo menos 30 matérias e 10 textos de opinião (entre artigos assinados e editoriais) sobre o pré-sal.
Três reportagens fortes: a do Globo, revelando que o governo poderá desapropriar os oito campos já licitados para a Petrobras e associadas, ainda no regime da lei do petróleo de 1997, que deverá mudar; a da Folha, informando que o presidente Lula vai autorizar, sim, o aumento da participação da União no capital da Petrobras, mas sem chegar aos US$ 100 bilhões que a empresa pediu (e o Globo foi o primeiro a noticiar, na semana passada); e a do Estado, anunciando que o governo abriu o debate sobre como gastar a dinheirama que espera arrecadar com a exploração das megarreservas das profundezas do mar.
Só que, a exemplo da cobertura do caso Varig e da Operação Satiagraha, para citar dois momentosos assuntos recentes, a imprensa falha ao não organizar a massa de informações que vem publicando.
Nenhum dos três grandes jornais se deu o trabalho de facilitar a vida do leitor, a cada dia, com um texto-síntese que o ajudasse a percorrer as matérias que, por sinal, raramente conversam entre si. O resultado lembra a história dos cegos que deviam dizer o que é um elefante com base no que cada um tateou no bicho.
O melhor que se conseguiu fazer para arrumar a cabeça do leitor foi, sem brincadeira, um editorial – o da Folha de domingo. Não pelo que o jornal acha ou deixa de achar das discussões sobre o assunto (“campeia a demagogia”, diz o texto, estadonicamente, logo na primeira linha), mas por apresentar um roteiro com aquelas que seriam as cinco questões essenciais que não se podem perder de vista nessa formidável história: a capacidade dos novos campos, o custo da extração, o controle de produção, a mobilização do capital e o destino da renda.
Salvo engano, aliás, até então a imprensa tinha passado ao largo de um aspecto determinante, destacado no segundo item: a partir de que cotação internacional o novo manancial brasileiro será rentável, considerando que não há precedentes, na indústria petrolífera mundial, para uma exploração maciça sob parâmetros tão severos.
Também salvo engano, dos comentários assinados – que, se não estiverem encharcados de ideologia sugerem caminhos para o leitor se situar – só um, o do economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, ainda na Folha, ontem, defendeu a criação de uma empresa 100% estatal para ficar com as reservas e fazer os contratos de exploração no sistema de partilha de produção, diferente do atual, de concessão.
Mas quantos leitores sabem exatamente que é uma coisa e outra? Só resta repetir, com as devidas desculpas: a imprensa tem de explicar, tornar a explicar, explicar ainda uma vez e outra, pelo menos aqueles aspectos da questão que, se não forem comprendidos, nada do resto será.