A questão das favelas evoca antes de mais nada a inexistência de uma política habitacional e de planejamento urbano nas cidades onde elas são mais numerosas.
O consultor Joseph Barat alerta hoje (12/11) em artigo na Economia do Estadão para o fato de que na França, país onde o planejamento urbano é privilegiado, tenha explodido uma revolta urbana, ou suburbana. “Na verdade o que se viu foi que a urbanização ordenada, embora condição necessária, não é suficiente para evitar uma crise urbana de grandes proporções”, escreveu Barat.
Barat diz que no Brasil não existe, há 25 anos, “política habitacional capaz de incluir no seu escopo aspectos relacionados com o uso e a ocupação do solo, direito de propriedade e provimento de serviços essenciais”. E mais: “A questão habitacional representa para a sociedade brasileira o maior encargo da dívida social acumulada por séculos de desigualdade. O contingente de pessoas e famílias que moram em condições precárias ou subumanas é o reflexo, no plano habitacional, dos padrões altamente concentradores de nossa distribuição de renda”.
Ontem à noite, o programa Planeta Cidade, de Cesar Giobbi, na TV Cultura, mostrou uma reportagem que provocava um certo riso nervoso. Foram visitados dois prédios de apartamentos. Em Moema, a unidade mais barata foi avaliada pelo corretor em R$ 2,6 milhões. O preço de alguns apartamentos poderia chegar a R$ 10 milhões. E o rapaz teorizava que esse é o típico caso em que a pessoa compra “movida pela emoção”. Haja emoção! O corretor informou que o estande de vendas da obra custou algo em torno de R$ 1 milhão. No Sacomã, foi visitado um prédio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) em final de construção. Com singeleza, o corretor dava o preço do apartamento padrão: R$ 45 mil.
Agora, pergunta-se: por que a imprensa brasileira passou 25 anos – até agora, a contagem continua – sem cobrar com eficácia o restabelecimento de uma política habitacional? (Sabendo-se, é bom insistir, que ela por si só não resolve, como mostra a organizada França.)
Uma pista: antes de mais nada, porque todos os envolvidos na produção jornalística, e todos os leitores, dos quais mais de 80% são assinantes, moram. E moram com um mínimo de conforto. E tem mais: em São Paulo, 80% dos jornalistas (é chute, mas plausível) moram dentro de um círculo com centro na Praça da Sé e raio de seis quilômetros. E a reportagem raramente vai a algum lugar que esteja além de um raio de dez quilômetros. No Rio o raio deve ter uma quilometragem ainda menor.