Pelo fecho de uma das matérias sobre Obama que apareceram na primeira página do New York Times da quinta-feira, 6/11, dá para sentir o que vem por aí.
Diz assim:
“A sua eleição ajudará a realizar um sonho familiar longamente acalentado: pelos próximos quatro anos, os Obamas vão finalmente jantar juntos.”
Vai ser uma torrente de matérias “humanas” sobre a nova Primeira Família maior do que aquela que acompanhou os Kennedy na Casa Branca, de 1961 a 1963.
A mídia americana já se ocupa até do Primeiro Cachorrinho – como vem sendo chamado, inevitavelmente, o bicho de estimação que Obama prometeu dar às filhas se fosse eleito e tivessem de se mudar de Chicago para Washington – e que ele achou que era o caso de mencionar no seu discurso de presidente-eleito.
Perto do que só está começando, o interesse da imprensa pelos Obamas durante a campanha eleitoral terá sido um exercício de austeridade jornalística.
Está claro por que. Tudo se enquadra de agora em diante numa retranca geral implícita: “Como fica a Casa Branca sob o seu primeiro inquilino negro”.
É bom lembrar que próprio, aliás, tratou deliberadamente de contrabalançar a propaganda abjeta da campanha de McCain – que insinuava, com outras palavras, que ele não era “um de nós” – mostrando a sua família “gente como a gente”, na convenção do Partido Democrata.
Fazer o quê? A onda Caras na comunicação de massa turbinada pela TV e a internet é maior e dura mais do que daquelas que fazem a festa dos surfistas lá no Havaí onde nasceu Obama.
E quando tem esse discreto tempero racial, então sai de baixo.
A ver se a advogada Michelle Robinson Obama reagirá à invasão da sua privacidade pela mídia com a mesma intransigência da socióloga brasileira Ruth Correia Leite Cardoso – que, para começar, abominava o termo Primeira-Dama.