A lei seca está na boca do povo.
Qualquer pesquisa que se faça sobre o assunto que mais tem chamado nestes dias a atenção de ouvintes, espectadores e leitores com toda probabilidade dará tolerância zero na cabeça – como acontece com as notícias que mexem diretamente com a vida cotidiana das pessoas.
Nesse caso, a mexida é profunda. Envolve beber e dirigir, duas coisas – juntas ou separadas – de que a grande maioria gosta. Envolve o risco de sentir o bafo da polícia no cangote. Envolve ter de tomar decisões novas: sair para a vida de taxi, ou contar com o abstêmio de turno, ou simplesmente apostar na sorte.
Envolve pensar – até que enfim – nas inevitáveis tensões entre o direito individual e a segurança coletiva. E nos limites: se 0,29 miligramas de álcool por litro de sangue é muito pouco para o motorista merecer multa, e 0,3 mg/l muito pouco para merecer processo criminal, qual seria o ponto ótimo entre o permitido e o proibido?
A imprensa está tratando de cercar o assunto por todos os lados – menos um. Assim como repetem todos os dias quadros com as perguntas que o leitor se faz sobre a lei e as respostas que ele necessita conhecer para se orientar, os jornais precisariam fazer algo parecido com o teor da polêmica: mapear e manter na página os argumentos a favor ou contra a novidade, que vêm pipocando em entrevistas e artigos assinados.
Pode ser que os zangados com a medida permaneçam como estão, sejam quais forem as idéias dos seus defensores. Mas se fosse se pautar por isso a imprensa se trairia a si própria, deixando de dar os “outros lados” da questão – ou de qualquer outra que polariza a sociedade.
O que não dá, de toda forma, é cobrir o assunto pela rama, burocraticamente. Se é verdade que a polícia está de olho nos motoristas, muito mais ainda os motoristas e o público estão de olho no que a mídia lhes entrega sobre o caso de seu interesse personalíssimo.