Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Paranóia traz o caos a SP

Os jornais paulistanos têm dado o devido espaço ao ‘caos’ – palavra do engenheiro Luiz Celso Bottura, especialista em problemas urbanos, ouvido pela Folha – em que a presença de Bush deve mergulhar a cidade entre o começo desta noite e o fim da tarde de sexta.

Segundo o Estado, certas ruas poderão ser interditadas até para pedestres, atropelando o direito constitucional de ir-e-vir.

Mas nenhum jornal achou que era já o caso de comentar mais esse sofrimento imposto aos paulistanos, em nome da segurança do ‘mais deplorável presidente dos Estados Unidos até onde a memória alcança’, como o qualificou o insuspeito Estadão, no editorial de ontem que o comparou ao Tio Patinhas.

Numa das mais inamistosas cidades do mundo para se viver, mesmo sob condições ideais de temperatura e pressão, a mídia local se resigna diante do que espera a sua sofrida população.

Informa, mas não se pergunta por que as autoridades brasileiras aceitaram mansamente a logística imposta pelo esquema de segurança da Casa Branca. Ao que parece, só uma exigência americana deixou de ser atendida: a interdição completa de uma das mais críticas artérias da cidade, a Avenida 23 de Maio.

A imprensa tampouco pergunta se outra logística dos deslocamentos de Bush, menos prejudicial à população, não poderia ter sido adotada. Era o caso de apurar, para começo de conversa, por que se aceitou como artigo de fé a paranóica negativa americana de serem usados helicópteros pelo menos para os quatro trajetos presidenciais entre Guarulhos e a cidade (chegada, ida e volta à Transpetro e partida).

O único – e robusto – protesto publicado foi a carta do leitor Francisco Antonio Bianco Neto, no Estado de hoje. Fazendo valer a sua condição de cidadão, escreveu:

Se é para infernizar a cidade e atormentar a vida do paulistano, muito obrigado, mas não quero, não pedi, não fui consultado e não faço questão da visita do presidente Bush. E não tem o menor cabimento paralisar o trânsito terrestre e aéreo por conta dessa visita, além do que ofende trazer 300 agentes de segurança só para acompanhá-lo, fora o acréscimo da força nacional que será posta à disposição do dignitário norte-americano. Por conta apenas de assuntos diplomáticos, ele que vá visitar Brasília, a capital federal (…)’.

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