Um dia, lá por dezembro de 1960, as agências americanas de notícias informaram que um avião da Força Aérea dos Estados Unidos desaparecera nos céus do Texas. Suspeitava-se que carregava uma bomba atômica.
Um vespertino lisboeta chegado a uma sensação gritou em manchete: “Parece que rebentou uma atómica”.
É o que sugere a reportagem de capa da revista Veja, hoje nas bancas, sobre os US$ 3 milhões que Cuba teria doado para a campanha de Lula em 2002.
Porque se a história ficar provada – e põe “se” nisso – a radiatividade política e institucional que daí resultar será comensurável com a de uma explosão atômica [com circunflexo e não com acento agudo, como se escreve no Brasil].
Mesmo que a coisa fique na base da “palavra de um contra a palavra de outro”, não se vê como a crise poderá se manter na temperatura já em elevação dos últimos dias, com o PT querendo a cabeça do tucano Eduardo Azeredo, e os tucanos e pefelistas querendo escarafunchar as contas da campanha presidencial.
Para não falar das traficâncias de Valério no Banco Central, também denunciadas pela Veja.
Em qualquer hipótese, a radicalização transbordará do universo político (governo, Congresso, partidos) para a esfera social. A CUT, o MST e demais movimentos populares irão para a briga em defesa do mandato de Lula.
E do direito do PT à existência. Por uma lei de 1995, partido que recebe dinheiro do exterior perde o registro. Cassado, não pode apresentar candidatos. E já expirou o prazo para os candidatos a qualquer coisa no ano que vem mudarem de partido.
A direita, com toda probabilidade, vai falar de megafone para ser ouvida nos quartéis, em nome da Ordem. Mesmo que os militares se comportem como manda a Constituição, a idéia de que Fidel Castro deu dinheiro para eleger Lula não será exatamente música aos ouvidos da caserna.
Tem mais. Os envolvidos, segundo a Veja, são gente ligada a Palocci. Quanto tempo ele aguentará dizendo que nunca ouviu falar na história?
Mais ainda. Como ficarão as relações entre o Brasil de Lula, supostamente beneficiado pelos dólares do castrismo, e os Estados Unidos de Bush? Dia 6, a propósito, o homem vai passar por aqui.
Preparem-se para ler e ouvir a expressão “ingerência em assuntos internos de outros países.”
Vocês não sei, mas eu vou encomendar uma reza brava para que a história da Veja se revele tão verdadeira como a da “atómica” do jornal português, que, afinal, não rebentou.
Isso não tem nada a ver com gostar ou não do PT e de Lula. Tem a ver com segurar as pontas do país.
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