Sob o título ‘Blogosfera em transe’, o colunista Nelson Motta publica na Folha de hoje o seguinte artigo:
‘Basta navegar um pouco pelos principais blogs políticos – Ricardo Noblat, Josias de Souza, Jorge Bastos Moreno, os mais frequentados da rede no momento, por motivos óbvios – para uma constatação desoladora: o nível de discussão equivale ao de um bate-boca futebolístico no botequim. Ou, na melhor hipótese, de um debate acalorado num diretório acadêmico. Cegos e surdos pelos slogans e palavras de ordem, protegidos pelo anonimato, petistas, tucanos e garotistas se equivalem em baixeza e em ignorância nas ofensas e nas acusações.
Como quem trabalha e tem horários e responsabilidades certamente não tem tempo de ficar batendo boca (ou dígitos) na internet o dia inteiro, fico imaginando quem seriam e o que fariam esses militantes digitais. Pelos conceitos, pelo estilo e pela disponibilidade, desconfio que a grande maioria esteja teclando de repartições públicas, de sindicatos, de diretórios partidários e estudantis.
Claro, há pessoas inteligentes, informadas e equilibradas, tentando contribuir com alguma racionalidade -– mas invariavelmente são soterradas por uma onda de impropérios e acusações de uns aos outros, numa disputa feroz entre quem roubou antes e quem roubou mais. Parece uma guerra de quadrilhas.
Às vezes, no escurinho dos blogs, me divirto provocando esses provocadores, desordenando as suas palavras de ordem, desmoralizando as suas morais seletivas. Sei que nada balança suas certezas, é só uma oportunidade para botar para fora, ou melhor, para dentro da rede, os seus mais baixos instintos. Funciona como uma terapia, você se diverte e descarrega a tensão, se sente mais leve e volta a trabalhar como todo mundo.
Torcidas organizadas, seitas e partidos políticos, tô fora. Porque são os atalhos escuros que mais nos distanciam das estradas luminosas da esportividade, da espiritualidade e da cidadania.’
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