Tudo indica que a preocupação com a participação do público no processo da comunicação será a tendência predominante na mídia mundial no ano que está começando. Os indícios estão bastante claros desde os últimos meses de 2006, quando várias organizações jornalísticas de grande porte começaram lentamente a admitir que o público pode ser um protagonista ativo na geração de notícias.
A BBC de Londres, por exemplo, convidou os espectadores para produzir vídeos de conteúdo jornalístico, estendendo à televisão convencional a política de valorização das contribuições do público inaugurada há pouco mais de um ano em vários projetos da emissora britância na Web.
Os vídeos produzidos pelos espectadores mostraram uma surpreendente qualidade técnica e cuidado jornalístico na produção da informação, mas o mais notável é que eles ignoraram olimpicamente a agenda da grande imprensa internacional, prara destacar temas comunitários e locais.
Isto pode ser um indicativo de que a presença mais ativa do leitor pode arejar a envelhecida agenda da imprensa concentrada basicamente na cobertura do jogo pelo poder político, nos interesses corporativos e na exploração do binômio esporte/intretenimento.
Também em dezembro último, o jornal The New York Times abriu a primeira janela de participação efetiva, embora ainda elitizada, ao convidar leitores para reescrever as reportagens do correspondente Nicholas Kristof (ver post anterior).
Na verdade, as iniciativas da BBC e do The New York Times surgem vários anos depois que os visionários da internet anteciparam a inevitabilidade da participação do público não como um luxo ou penduricalho marqueteiro mas um componente essencial na geração de conhecimentos na nova sociedade baseada em redes de computadores.
A inclusão do público tornou-se quase obrigatória para o processamento da avalancha informativa gerada pela internet, que hoje permite acessar, em tempo real, a maioria esmagadora dos jornais, rádios, revistas e televisões do mundo inteiro, somada à multiplicação exponencial de weblogs (páginas pessoais) e agora ao fenômeno da disponibilização maciça de vídeos amadores através de sites como o YouTube.
Os jornalistas e os especialistas não conseguem mais dar conta de um volume tão grande de informações, dados e notícias. Além disso, o público descobriu toda a ampla variedade de canais de participação abertos pela internet e vai usá-los com ou sem a intervenção da midia.
Admitir a participação, como fizeram o New York Times, a BBC e alguns jornais brasileiros como a Zero Hora de Porto Alegre, é um primeiro passo que deve ser, inevitavelmente, acompanhado de um diálogo entre os colaboradores, principalmente entre os jornalistas profissionais e o público.
Diálogo pressupõe igualdade o que não sinônimo de uniformidade e nem de unanimidades burras. Pelo contrário, implica diversidade e é ai que vão começar a aparecer as características revolucionárias da participação de todos no processo da comunicação.
O grande risco é o surgimento de resistências tanto entre os jornalistas como no público, baseadas em antigos preconceitos. Mas ambos os protagonistas estão condenados à colaboração porque um não pode prescindir do conhecimento do outro. Aos jornalistas tocará a difícil e insubstituível missão de iniciar o processo da inclusão do leitor.
Pessoal,
Um 2007 muito feliz para vocês todos e que a gente continue a conversa durante os próximos 12 meses. Um abração
Errei: Peço desculpas aos leitores pelo erro ortográfico cometido no segundo parágrafo do texto. Originalmente coloquei: …extendendo à televisão…., quando o certo é estendendo. O erro já foi corrigido seguindo advertências de vários leitores. Muito obrigado pela vigilância ortográfica.