Terry Lynn Karl é uma respeitada cientista política americana. Ela leciona na Universidade Stanford, em Palo Alto, Califórnia, e é associada-sênior do Instituto Freeman Spogli de Estudos Internacionais. Ela é também sulista. Nascida em Saint Louis, Missouri, fala do Mississippi como “o rio da minha juventude”.
Ela acaba de colocar na net o artigo “O segundo desastre do Golfo de Bush”, sobre a catástrofe de Nova Orleans, na Costa do Golfo do México. A analogia, evidentemente, é com o Golfo Pérsico.
No e-mail que acompanha o texto, ela se dirige também aos residentes de outros países:
“Aqueles de vocês que vivem fora dos Estados Unidos talvez não tenham visto as constantes imagens de dezenas de milhares de pessoas retidas no estádio esportivo e centro de convenções infestado de germes, os necrotérios inundados, os atiradores disparando em funcionários de hospitais, a solitária idosa sentada, morta, na sua cadeira de rodas, os policiais berrando com os seus camaradas que abandonaram os seus postos aos bandos, os repórteres de TV sufocados pelas lágrimas, os saques reminiscentes do Iraque, o prefeito de Nova Orleans soluçando de frustração, o soldado (recém-chegado do Iraque) apontando a sua arma e gritando para refugiados negros: “Vocês foram muitos burros, ficando. Agora fiquem como estão se não atiro”, as mães vadeando águas barrentas, em meio a esgotos não tratados, segurando os filhos acima de suas cabeças, e os incontáveis atos de generosidade e coragem daqueles que padeceram de falta de água durante 4 dias, a temperaturas de 35 graus (…). Mesmo agora, uma semana depois do desastre, não está claro se o presidente se deu conta plenamente de que uma cidade de 1,4 milhão de habitantes foi destruída.”
O que remete ao fecho do implacável artigo de Terry:
“A destruição e as dilacerantes divisões sociais e raciais que ela expôs mostram com que urgência nossas prioridades nacionais precisam mudar. Cidadãos do país mais rico do mundo, necessitamos de um debate nacional abrangente sobre quando, onde e como nossas vidas podem ser postas em perigo, como proteger da melhor forma os nossos concidadãos e como nossos recursos devem ser gastos.
Dimensão central desse debate são as consequências das políticas ambientais e energéticas que fazem lucrar uns poucos, no curto prazo, e devastação para muitos, a longo prazo. As ideologias de privatização que incapacitam a ação eficiente do governo, permitindo que os privilegiados se salvem enquanto os pobres ficam agarrados nos telhados, também precisam ser desafiadas.
E como esse desastre é um arrepiante lembrete do que acontece quando o nosso governo falha em proteger os seus cidadãos, é imperativo que exijamos a responsabilização dos envolvidos – não apenas demitindo os servidores públicos que simplesmente deixaram de cumprir o seu dever, mas também pela remoção das autoridades eleitas cujas políticas agravaram a destruição trazida pelo Katrina.” (Negrito meu.)
Que eu saiba, ninguém chegou tão perto de pedir a cabeça de Bush por causa do que Terry Karl e tantos outros vêm chamando “uma desgraça nacional” – a conduta criminosa do governo federal diante do furacão Katrina.
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