Duas das colunas mais lidas trazem hoje o exemplo de como a informação – mesmo a que lida com assuntos gravíssimos, como a crise moral e política – pode ser tratada de maneira fortuita, marota, na qual o acessório é mais importante do que o essencial e os interesses todos são preservados. No centro da questão, a quebra de sigilo dos fundos de pensão das empresas estatais. Na cobertura, duas colunas celebradas – o Painel, da Folha de S.Paulo; e Coisas da Política, do O Estado de S.Paulo. No Painel da Folha , duas notas curtas apresentam a queda-de-braço entre a oposição e a situação em torno da abertura das contas dos fundos – e, principalmente, dos investimentos realizados. ‘Bode na sala’, anuncia o título da primeira nota, com a descrição de que, na semana passada, reunião ocorrida no gabinete do líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, ‘o PSDB ameaçou apresentar requerimento convocando Fábio Luís Lula da Silva a depor na CPI dos Correios’. A segunda nota, ‘Empurrãozinho’, encerra dizendo que, ‘ao lado do acordo para manter fechada a caixa-preta dos fundos de pensão, a ameaça de chamar o filho do presidente fez com que os petistas abandonassem o projeto de convocar o tucano Eduardo Azeredo’. Resumo da ópera: a disputa política em si e a troca de ameaças entre as duas forças políticas ficaram acima do interesse público de, por fim, se abrir as contas dos fundos de pensão e todos os interesses escusos – do passado e do presente – que elas escondem. No O Estado de S.Paulo, ao pé da coluna, a jornalista Dora Kramer abre um parágrafo e acrescenta o subtítulo ‘Acordo fechado’, para acrescentar: ‘Tem autoria conhecida o acordo fechado com o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral, para evitar a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos fundos de pensão. Governo numa ponta, PSDB do Senado na outra, ambos convenceram o PFL de recuar da proposta e aceitar um mero pedido de informações à Comissão de Valores Mobiliários e à Secretaria de Previdência Complementar sobre investimentos e operações com títulos públicos. ‘Por essa via’, continua, ‘nada de importante será encontrado. Aos tucanos, que já estavam enrolados com os empréstimos de Marcos Valério aos seus em Minas, deve interessar por algum motivo o acerto. E aos pefelistas, pelo jeito, também’. 1) Que medo é esse que faz com que os principais partidos políticos evitem abrir contas que deveriam ser acessíveis a todos ? 2) Por que o noticiário acerca da participação dos fundos de pensão no fomento a operações irregulares do mercado financeiro resume-se à disputa partidária e às ameaças de ambos os lados? 3) Por que a desmemória sobre os fundos de pensão das estatais se auto-alimenta nas reportagens, sendo rara, quase inexistente, a lembrança de que o poder dos fundos foi erguido com recursos privilegiados das atuais e ex-empresas estatais – em português claro, com dinheiro transferido dos impostos pagos por todos os contribuintes? 4) Por que não se explora se ainda hoje os cofres das empresas estatais continuam irrigando os fundos de pensão de maneira desproporcional – e não na equiparação da contribuição contrapartida de um por um, como acontece nos fundos de pensão de empresas privadas? 5) Por que o jornalismo político se aferra às disputas entre partidos em si – e se esquece dos aspectos morais que cercam essas disputas? 6) Por que duas das principais colunas políticas do país perderam a oportunidade de dar nomes aos bois?
Várias perguntas brotam diante da leitura das colunas que, supostamente, deveriam ser bem-informadas e, por missão, transmitir boa informação aos leitores e contribuintes: