A onda de pessimismo econômico que começa a se espalhar sobre a Europa, como uma nuvem vulcânica, coincide com a disseminação de rumores cada vez mais fortes sobre o agravamento das dificuldades financeiras de alguns dos mais tradicionais grupos jornalísticos do Velho Mundo.
A preocupação já vinha de antes mas se agravou quando o The Guardian, um dos lideres da imprensa britânica admitiu um prejuízo recorde equivalente a cerca de 50 milhões de dólares, só no ano passado. As perdas acumuladas no jornal, que é considerado um dos mais bem diagramados da Europa, estariam chegando perto dos 70 milhões de dólares, colocando um difícil dilema para seus controladores.
O The Guardian apostou na qualidade informativa, sendo um dos raros jornais mundiais que evitaram cortes drásticos na redação da versão impressa para manter os padrões de noticiário que o tornaram famoso no mundo inteiro. O The Guardian tem hoje cerca de 630 jornalistas na redação, quando a maior parte dos demais jornais britânicos, do mesmo porte, tem menos de um terço deste efetivo.
O corte na carne parece agora inevitável na redação que resistiu à política de enxugamento das redações adotada pela esmagadora maioria da imprensa mundial. Fala-se também que o jornal mudaria radicalmente a sua versão impressa para transformá-la num veiculo analítico em vez de noticioso. Outra consequência da crise seria o aprofundamento da opção pela via digital, onde o Guardian Online é considerado um paradigma jornalístico embora ainda não seja auto-sustentável financeiramente.
O acúmulo de perdas anuais resultantes da queda da publicidade na versão impressa parece tornar irreversível a necessidade de uma opção editorial, antes que seja demasiado tarde. O Guardian já havia feito uma aposta pesada na informação digitalizada, há cinco anos, quando a maioria dos demais jornais ainda estava em cima do muro. Mas seu projeto estava, e ainda está, muito dependente do faturamento da edição em papel.
A dificuldade em recuperar a lucratividade está levando vários outros jornais europeus, especialmente os da Grécia, Inglaterra e das antigas repúblicas da União Soviética a vender seu patrimônio para investidores, definidos pelo critico da mídia do The Guardian, Dan Sabah, como os”novos plutocratas” da imprensa .
Entre eles estão o magnata russo Alexander Lebedev e os donos do banco Barclays, respectivamente os novos proprietários dos jornais Evening Standard e News International. O mesmo Sabah, depois de analisar a crise no seu próprio jornal admite que a imprensa britânica está a um passo de perder o seu caráter nacional, dada a irreversibilidade de mudanças gerenciais para transformar os grupos jornalísticos em conglomerados multinacionais.