Já perto do fim de uma matéria da Folha desta véspera de feriado sobre o petróleo de Tupi, um consultor estrangeiro, Mattew Shaw, diz que, se tudo correr como a Petrobras espera, o campo – uma área de 800 km de comprimento por 200 km de largura, do Espírito Santo a Santa Catarina – poderá gerar 1 milhão de barris por dia de óleo leve, de alta qualidade.
Um milhão de barris é metade de toda a produção brasileira diária prevista para 2008.
Repito: um milhão de barris é metade de toda a produção brasileira diária prevista para 2008.
“O impacto será grande”, diz a fonte, numa avaliação que já teria nascido franca favorita a um imaginário concurso de frases que são o máximo em matéria de dar a proverbial pálida idéia sobre alguma coisa.
Grande, Mr Shaw, é apelido – se tudo correr como a Petrobras espera, naturalmente.
Vem a calhar essa discreta passagem do alentado noticiário do dia sobre o que pode mudar no país, começando pela legislação do setor, a se confirmarem as previsões de que o mar de petróleo da chamada Bacia de Santos é muitíssimo maior do que se dizia quando a existência dessa jazida em águas profundas foi anunciada pela primeira vez, em julho do ano passado.
Vem a calhar porque coloca a mídia diante de um desafio que se prolongará por um tempo impossível de estimar a esta altura. É uma pauta nova que a força dos fatos impõe à imprensa.
Desde que neste país se começou a furar poço, como diria o inolvidável Severino Cavalcanti, ou pelo menos desde que a campanha do “petróleo é nosso” galvanizou a população, meio século e tanto atrás, a mídia não foi tão solicitada como agora, objetivamente, a explicar, tornar a explicar, explicar de novo e ainda uma vez e ainda outra o que estiver em jogo no processo que poderá culminar com a entrada do Brasil na liga dos 10 maiores produtores mundiais do tal ouro negro.
Os jornais de hoje dão um passo nessa direção quando procuram mostrar o que são e no que se distinguem as políticas de exploração de petróleo adotadas pelos diferentes países.
O gancho é a decisão do governo de aplicar aos 41 lotes da Bacia de Santos, retirados da próxima licitação de concessões, regras diversas das que a Lei do Petróleo, de 1997, prevê para essa modalidade de contratos de extração do combustível.
A questão imediata é se o marco regulatório específico para Tupi que o governo contempla demandará mudanças na lei – ou seja, via Congresso – ou se bastará um decreto presidencial, dando ao Estado um percentual maior que o costumeiro de lucros, sob a forma de royalties e “participações especiais”.
Se eu disser que são grandes os interesses em confronto no caso, estarei – à maneira do consultor ouvido pela Folha e citado no início deste texto – dando apenas uma pálida idéia da coisa.
A identificação desses interesses é uma das tantas explicações continuadas que o público tem o direito – e a necessidade – de receber da mídia daqui para a frente.
Porque a sociedade precisa de toda a informação que puder absorver – daí a insistência no jornalismo explicativo – diante do que leva todo o jeito de se tornar um prolongado torneio de queda de braço, envolvendo o Estado, a Petrobras de que é sócio maior, empresas e governos estrangeiros.
Nas edições do dia, entre reportagens, artigos e editoriais, a imprensa tende a ecoar os pontos de vista segundo os quais é no mínimo imprudente e no máximo lesivo ao interesse nacional o governo mexer no sistema de concessões em vigor na área de petróleo.
Pode ser, mas não ficou demonstrado – e talvez nem fique enquanto não se souber mais sobre o tesouro Tupi, o custo estimável de sua exploração, e a evolução, sempre incerta, das cotações do produto.
Porque a economia do petróleo ensina que a extração off shore de depósitos profundos – que custa três ou até quatro vezes mais do que nos outros casos – só compensa quando o valor de mercado do combustível é de US$ 60 o barril para cima.
E esse, por decisivo que seja, é um entre muitos aspectos – econômicos, políticos e estratégicos – de um problemaço que desde logo põe à prova a aptidão do jornalismo brasileiro para informar e elucidar.