Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Poder abre espaço para as elites do crime

Se o braço do Estado não for reforçado com inteligência, o Brasil, que já incorporou aos poderes supremos as elites agrária, industrial, financeira, militar, universitária e sindical, corre o risco de garantir espaço para as elites do crime. A imprensa deve ser dar conta desse risco. Até porque já se deixou levar por criminosos dos dois lados da linha que deveria separar o que é legal do que é ilegal.


É uma reflexão que emerge dos fatos recentes, de um mínimo de conhecimento histórico (Itália, Estados Unidos, Colômbia, México, Rússia, o leitor pode escolher entre muitos casos) e de entrevista com o deputado Antonio Carlos Biscaia, do PT do Rio de Janeiro.


Biscaia disse ao Observatório da Imprensa que a mídia deveria se mobilizar para mostrar à opinião pública que o atual surto de legislação criminal improvisada que assola o Congresso não vai levar a nada. Perfeito. Deveria denunciar os contrastes do país, especialmente os de sua área específica de atuação, a Justiça. Perfeito. Deveria ela mesma fazer investigações que a Polícia e a Justiça não se mostram capazes de realizar. É uma tese discutível. Para ser sincero, isso nunca daria certo.


Biscaia faz críticas sérias à mídia – pergunta, por exemplo, por que a imprensa não mostra que alguns candidatos podem e outros não podem entrar em áreas dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro – mas propõe uma liberdade absoluta de imprensa, sem levar em conta eventuais excessos. É outra tese com a qual não se pode concordar. Pode-se aceitar uma formulação que trabalhe com o conceito de “absoluto”?


O deputado sugere à televisão uma conduta educativa. Tese que se pode entender, mas não acolher. Desde o início, há 55 anos, a televisão brasileira se pretendeu educativa, de uma ou de outra maneira, mas isso não funcionou para dar aos cidadãos maior liberdade em face aos poderes da República, entre eles, especificamente, o Quarto Poder, a própria mídia.


Biscaia conhece a realidade do crime. Ele foi procurador-geral do estado do Rio de Janeiro em1984-86 e em 1991-95, durante os dois governos de Leonel Brizola. Foi ele o responsável principal pelo oferecimento de denúncia contra bicheiros do Rio que foram parar na cadeia. Nesse processo houve um episódio, no tribunal, que notabilizou a então juíza Denise Frossard, hoje deputada federal pelo PPS do Rio de Janeiro. Frossard deu voz de prisão aos arrogantes bicheiros e aos seguranças que os acompanhavam dentro do tribunal.


Na entrevista ao Observatório da Imprensa, Biscaia faz críticas ao primeiro secretário Nacional de Segurança Pública do governo Lula, Luiz Eduardo Soares. Acusa-o de ter desfigurado durante o governo de transição o plano de governo de Lula para a segurança, de ter ficado quieto em 2004 e 2005 e agora, em ano eleitoral, fazer críticas contra o governo do partido de Biscaia.


Luiz Eduardo Soares responde que aceitou a redução do status da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senad) porque o “núcleo duro” do governo lhe pediu paciência e lhe prometeu uma evolução gradual que acabou não ocorrendo.


Das duas entrevistas sai mal o governo federal. Saem mal todos os governos. Todos os poderes.


Leia a seguir a entrevista de Antonio Carlos Biscaia e as respostas dadas por Luiz Eduardo Soares.