Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Por essa eles não esperavam

Os números batem na mídia sem dó nem piedade.

Nas últimas semanas, os habituais comentaristas catastrofistas previam, com a certeza dos iluminados, a deterioração do ajuste fiscal, por efeito do aumento do salário mínimo e do que identificavam como surto de gastança do governo em ano eleitoral.

O colunista Luís Nassif inventou a expressão “cabeça de planilha” para criticar os economistas que não enxergam um palmo adiante do contabilismo com que defendem uma política econômica mais na defensiva do que o time argentino depois de fazer 1 a 0 na Alemanha.

Mas o pior é que nem mesmo montam planilhas que se sustentem, concorde-se ou não com as suas premissas.

Uma evidência disso está nos jornais de hoje, que trazem os mais recentes resultados do desempenho do setor público.

Começa assim a matéria do Estado:

”Apesar do aumento dos gastos às vésperas das eleições…”

Começa assim a matéria da Folha:

”Mesmo com os maiores gastos do governo a poucos meses da eleição…”

”Apesar do” ou “mesmo com”, aconteceu o quê?

Aconteceu, como diz o Estado, um superávit primário em maio de R$ 6,3 bilhões que, embora um 1/3 do obtido em abril, é igual ao do mesmo mês do ano passado. “Superou as expectativas de analistas econômicos”, registra o jornal.

Ou, como informa com mais precisão a Folha, o ajuste fiscal está em 4,51% do PIB, acima da meta de 4,25% para o final do ano.

Isso foi possível porque a receita aumentou mais do que a despesa.

Talvez para não dar o braço a torcer, o Estado ressalva que a economia de R$ 6,3 bi “não afastou as dúvidas com a trajetória de gastos do governo a médio e longo prazos”.

Tirando o fato de que a longo prazo estaremos todos mortos, como dizia John Maynard Keynes, talvez o maior economista do século 20, para ridicularizar os cabeças de planilha do seu tempo que sofriam de incontinência só de ouvir falar em investimento público e endividamento, a “trajetória de gastos do governo” não parece tirar o sono de um Malan.

Trata-se do chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Luiz Malan [não sei se é parente do outro, cujos maiores discípulos são os condutores da política econômica do governo Lula].

Malan II na Folha: “Não há nenhum problema em relação ao cumprimento da meta” [os tais 4,25%].

Ah, sim. Também há boas notícias em relação ao dado que as agências internacionais de avaliação de risco julgam ser o mais importante indicador da saúde financeira de um país – a relação entre a dívida pública e o PIB.

Em maio, ela ficou em 50,7%, a menor desde abril de 2001.

Em suma, não há hipótese de escassear dinheiro para repassar à banca. A propósito, foram R$ 156,4 bi de juros pagos de junho de 2005 a maio passado.

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