A Folha publica hoje a seguinte carta:
‘Em razão da lambança estabelecida na cena política brasileira – com dólares na cueca, Waldomiros e dossiês -, forja-se pela mídia o surgimento de um político austero, moderno e dinâmico. O nome da vez é Aécio Neves. Mas quem vive no Estado governado por esse autêntico ‘mauricinho’ e tem um pouco de lucidez sabe que a saúde está um caos, que os banqueiros – e, principalmente, as construtoras- estão se fartando, que a educação é um desastre (o salário de um professor concursado da rede estadual de ensino é R$ 414, meu caso), que a conta de luz é a mais cara do Brasil e que os altos índices nas pesquisas eleitorais refletem a dinheirama recebida pelo PSDB em sua campanha. Junte-se a isso uma imprensa conivente e/ou censurada que constrói histórias fantasiosas e reconstrói a história do personagem. O ‘menino do Rio’, na realidade, votou contra todos os direitos do trabalhador, sendo agraciado com a nota zero pelo Diap por sua atuação como deputado.‘
Transcrevo o desabafo do leitor Eduardo Moraleida, que se identifica como professor de história em Belo Horizonte, porque aí está um exemplo acabado de omissão jornalística da mídia do eixo Rio-São Paulo, da qual não se supõe que esteja ‘conivente ou censurada’, como estaria, segundo o leitor, a imprensa mineira.
É fato que ‘Aecinho’, desde o seu aparecimento na mídia brasileira, em seguida à morte do tio Tancredo Neves, foi tratado como colírio do noticiário político. Fez por merecer isso, politicamente, quando presidente da Câmara, de 2000 a 2002, graças ao seu bem-sucedido desempenho. Pelas pesquisas, que hoje lhe dão 70% dos votos para se reeleger governador de Minas, o eleitorado de sua terra considera sua gestão um assombro.
Mas, sem desmerecê-lo, dizem os conhecedores que o grão-gestor do Estado nestes quatro anos foi o secretário Antonio Anastasia, por sinal o seu vice para o segundo mandato. Ele deve ter ido ao Rio uma vez para cada dez do chefe.
Quanto mais não seja pelo fato de que o hábil, moderado e bem-apessoado governador forma com o paulista José Serra a primeira dupla de presidenciáveis na praça para 2010, ele já devia estar sob rigoroso escrutínio da mídia nacional.
Além disso, Minas é Minas, não exatamente um grotão perdido no mapa.
O leitor da Folha que o critica duramente pode estar certo, errado, ou, como gosto de dizer, em qualquer ponto entre esses extremos. Mas aos leitores da Folha, e dos outros diários do mesmo porte, deveria ter sido dada a oportunidade de saber o que há para saber sobre Aécio Neves nas colunas políticas e de governo, não na seção de cartas.
Por falar em omissões, o Estado e o Globo de hoje deixaram de dar uma notícia importante: a conclusão da Polícia Federal de que, ao contrário do divulgado, não houve grampo telefônico nem no Tribunal Superior Eleitoral, nem no Supremo.
Quando uma empresa especializada em varreduras disse que havia, todos os jornais, compreensivelmente, deram o maior destaque à notícia. O Estadão publicou até um editorial sugerindo que, sob o esquema petista de poder, tudo é possível. Agora, salvo a Folha, os dois outros grandes ignoraram o contraditório.
P.S. Da série ‘sempre é tempo’
Sempre é tempo de lembrar, diante das repetidas acusações do presidente Lula e do ministro Tarso Genro contra a falta de ‘condescendência’ (Lula) da mídia em relação ao atual governo, no quesito honestidade, que o PT passou 20 anos gerando a percepção de que, nessa matéria, era diferente de tudo que estava aí. Nada mais natural, portanto, que, tendo ido ao poder, as ações do partido e do seu governo fossem acompanhadas com rigor compatível com a imagem da incorruptibilidade petista.
A bem da verdade, não foi nem desde o primeiro dia de Lula no Planalto que a imprensa o levou ao microscópio. Foi desde o escândalo protagonizado por Waldomiro Diniz, ao vivo e em cores, levado ao ar em 2004, pondo em foco as sua proximidade com o então ministro José Dirceu, de quem era assessor para assuntos parlamentares. A partir daí, virou jogo jogado.
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