Sábado de manhã, no apinhado balcão do café de um empório chique dos Jardins, em São Paulo, um bem-apessoado cavalheiro culpava o presidente Lula pela catástrofe de Congonhas. E culpava uma parte dos brasileiros por Lula ser presidente.
“Esperar o quê, se no Brasil analfabeto pode votar?”, perguntava retoricamente o distinto.
A teoria do golpe dos analfabetos equivale à do golpe das elites de que se ouve falar em outros espaços, também ao som do ranger de dentes.
Uma semana depois da catástrofe de Congonhas, a leitura dos periódicos e um giro pela blogosfera deixam claro que o país ficou não apenas mais sofrido, porém pior. Antes de tudo, por reviver, com rancor redobrado, o antagonismo entre lulistas e anti-lulistas que marcou a reta final da eleição de outubro passado.
O “extravasamento” do assessor presidencial Marco Aurélio Garcia e o tom hidrófobo de não poucos ataques ao governo em cartas aos jornais e mensagens na internet parecem anverso e reverso da mesma medalha. É o que dá para dizer também dos defensores esbugalhados de Lula e dos blogueiros de direita da linha mata-esfola.
“A companhia do que há de mais preconceituoso e reacionário no país inibe qualquer crítica a Lula, mesmo as que ele merece”, observou Luis Fernando Veríssimo.
Ele não estaria errado se observasse igualmente: “A companhia do que há de mais troglodita e intolerante no país inibe qualquer crítica à imprensa, mesmo as que ela merece.”
Não pergunte por quem os sinos dobram, escreveu o poeta inglês John Donne. Pois é. Eles dobram por nós.
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