De Londres, o jornalista Pablo Uchoa manda o comentário abaixo:
‘Sem muito alarde, a imprensa portuguesa divulga um plano do governo para selecionar e vacinar contra a gripe aviária 100 mil cidadãos considerados ´fundamentais` para o país. A notícia parece saída de uma trama surreal de José Saramago, mas ilustra o pavor, muito real, que a doença das aves está espalhando pela Europa.
É quase apocalíptico o quadro que embasa a estratégia de Lisboa. O país tem hoje tratamento para 25% dos seus 10 milhões de habitantes, um contingente considerado pequeno no caso de uma pandemia do vírus H5N1. Se isto acontecer, a sub-secretária de Saúde, Graça Freitas, estima que entre 20% e 30% de todos os portugueses ficarão em casa, doentes ou temendo ser afetados pela gripe aviária. A solidariedade entre vizinhos, segundo ela, será muito limitada. Na impossibilidade de atender a todos, Portugal terá de preservar um mínimo de mão-de-obra para assegurar ´o funcionamento do tecido social` – e serão os profissionais de saúde, fornecimento de eletricidade, água, gás e alimentos os mais necessitados na hipótese de uma epidemia devastadora.
É dificil dizer o que mais impressiona nesta notícia: se o quadro apocalíptico traçado pelo governo, a estratégia de ´eleger´ apenas 1% de sua população para receber tratamento contra a gripe aviária ou a relativa indiferença da imprensa tanto a uma coisa como outra. É como se Portugal estivesse se preparando para um novo terremoto de Lisboa. Com o agravante de que nenhum tratamento utilizado hoje contra a doença das aves é 100% efetivo. A exemplo de outros países europeus, o governo português reservará recursos para encomendar vacinas que ainda não existem, mas que existirão quando o vírus H5N1 sofrer a esperada mutação que antecederá sua disseminação entre seres humanos. Mutação que, aliás, ninguém sabe muito bem quando vai ocorrer.’
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Público
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