Ontem me perguntei como os jornais de hoje tratariam as duas frases que me soaram as mais fortes do discurso de despedida de José Dirceu (ver “Vou fazer e acontecer”, de 16/6).
No noticiário, a Folha destacou uma delas na manchete interna ““Combaterei quem quer desestabilizar Lula””. O Globo preferiu destacar a outra sob a manchete de primeira página: “Depois de 30 meses, ele deixa a Casa Civil para “continuar governando o Brasil como deputado””. O Estado não ressaltou nem uma coisa nem outra.
Nos editoriais sobre a queda, nada na Folha. O do Estado, que só sairá amanhã, provavelmente abordará o assunto.
Já o Globo, depois de assinalar que Dirceu “vestiu o uniforme de combate… contra uma suposta tentativa de desestabilização do presidente Lula e da própria democracia” disse que “compreende-se que a emoção desses momentos produza arroubos verbais”.
Saí com a impressão de que, um pelo outro, os jornais gastaram mais tinta e papel do que talvez devessem com o que empurrou Dirceu para fora do Planalto e menos do que deveriam com o que ele poderá aprontar de agora em diante.
Pela simples razão de que o rumor de sua saída próxima já vinha aparecendo na imprensa antes mesmo da primeira entrevista de Roberto Jefferson sobre o mensalão, na Folha. Ao passo que o futuro de Dirceu é um prato cheio para as páginas políticas, embora necessariamente marinado em especulação.