Volto, por achar importante, a um dos assuntos da minha nota de quinta-feira – a questão do uso de imagens externas no horário eleitoral. Emenda apresentada pelo senador petista Aloizio Mercadante ao parecer do pefelista José Jorge, relator do projeto que regulamenta a campanha política deste ano, determina o seguinte sobre os programas eleitorais e as inserções ao longo da programação de rádio e de televisão: ‘Serão gravados em estúdio e deles somente poderão participar o candidato e filiados a seu partido, sendo vedadas as gravações externas, montagens e trucagens, computação gráfica, desenhos animados, efeitos especiais e conversão para vídeo de imagens gravadas em películas cinematográficas’. À parte o problema de redação sobre filiação partidária – sugerindo que só petistas poderão aparecer na propaganda de Lula e só tucanos na de Geraldo Alckmin, excluíndo os membros dos demais partidos das respectivas coligações -, a questão das ‘externas’ começou a provocar acesa controvérsia. Os dois principais jornais paulistas, por exemplo, estão em campos opostos a esse respeito. Anteontem, o Estado considerou ‘uma inovação verdadeiramente revolucionária’ a proibição de ‘entrevistas’ com eleitores e imagens sob medida de comícios’, lembrando que ‘a mudança é uma homenagem póstuma ao ex-senador e governador Mário Covas [pois] ninguém se bateu mais do que ele contra o espetáculo de ilusionismo nas campanhas, conduzido por especialistas pagos a peso de ouro’. Hoje, a Folha, também em editorial, opinou que a medida é uma ‘restrição ao debate’ e ‘um grave cerceamento à liberdade dos partidos políticos de criticar e ao direito dos cidadãos de ser bem informados’. Para o jornal, ‘o mecanismo é nocivo à democracia, na medida em que pretende impor amarras à liberdade de partidos e candidatos exprimirem suas críticas e opiniões’. E exemplifica: ‘Todas as imagens de arquivo das CPIs estariam proibidas [se a Justiça Eleitoral interpretar a proibição ao pé da letra], o que privaria o eleitor de receber informações relevantes acerca de acontecimentos recentes da história do país.’ Pessoalmente, tendo a ser favorável à restrição, mas numa versão light: não a cenas de comícios ou de entrevistas de rua – porque em geral são montagens marqueteiras ou quase isso – e sim a fotos e filmes anteriores à campanha ou que sirvam para ilustrar os argumentos dos candidatos. Mesmo nesse último caso há um problema: as ilustrações não costumam ser um retrato representativo da realidade, mas um retrato daquilo que os candidatos querem que os eleitores tomem por realidade – e que pode ser uma senhora exceção. Exemplo: o candidato A diz que nunca a saúde pública no Brasil esteve tão bem, e aparece uma cena de hospital limpinho, sem filas, com médicos e enfermeiras cuidando dos pacientes com o zelo a que estes têm direito. Já o candidato B, que diz a saúde pública no Brasil nunca esteve tão ruim, é respaldado por imagens de filas imensas, macas cheias em corredores e hospitais caindo aos pedaços. Como é que o espectador-eleitor vai saber qual das duas tomadas é mais próxima da verdade? Gostaria de saber o que vocês pensam. *** Os comentários serão selecionados para publicação. Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas, que contenham termos de baixo calão, incitem à violência e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.