O projeto Editorial J, da Faculdade de Jornalismo da PUC do Rio Grande do Sul (Famecos) começou a desenvolver no final de abril uma experiência de aplicação na cobertura noticiosa local e hiperlocal do chamado “mercado de ideias”, um programa que permite a um grande número de pessoas indicar temas de sua preferência.
É uma experiência que pode revolucionar a forma como a imprensa cobre os assuntos urbanos e comunitários na medida em que o público passa a ser o grande pauteiro na cobertura jornalística, ao mesmo tempo em que coloca o profissional do jornalismo numa posição bem diferente da atual.
O projeto se inspira num programa chamado All Our Ideas (Todas as Nossas Ideias) , desenvolvido em conjunto por sociólogos e engenheiros eletrônicos da Universidade Princeton, com apoio financeiro do site de buscas Google. O programa permite que um número virtualmente infinito de pessoas possa sugerir temas, emitir opiniões ou fazer reclamações, bem como votar nos itens que lhes pareçam mais interessantes ou necessários.
A versão brasileira criada pelo Editorial J é uma adaptação do software original voltada especificamente para a cobertura jornalística local . As sugestões entram num banco de dados onde visitantes podem votar decidindo quais são as mais populares. Os resultados são imediatamente visualizáveis em formato estatísticos ou gráfico de nuvem. Os dois mais votados aparecem na página de abertura do projeto e serão transformados em reportagem pelos alunos do curso de jornalismo da Famecos, para publicação no jornal Editorial J.
Na primeira semana de experiência foram submetidas 17 ideias, das quais nove receberam 649 votos. As as preferidas foram[1] a investigação de casos graves de violação da privacidade individual na internet e o provável lançamento do Partido Pirata no Brasil.
É uma ideia que pode quebrar os paradigmas atuais em matéria de cobertura jornalística local e tem como grande mérito o fato de incorporar a universidade na busca de um novo modelo de negócios para a imprensa, bem como desenvolver uma mentalidade participacionista e colaborativa entre os consumidores de notícias.
Embora seus resultados só possam ser avaliados num prazo mais longo, um problema imediato é o da confiabilidade dos votos, já que uma mesma pessoa pode votar quantas vezes quiser, conforme revela o próprio site do projeto. Por enquanto não há problemas porque os visitantes e votantes são quase todos professores e alunos da Famecos. Mas à medida em que outras pessoas passarem a votar, os resultados podem ser desvirtuados por lobby.
O projeto está apoiado na teoria do crowdsourcing ( multidões colaborativas), o jargão técnico para softwares capazes de recolher um grande número de propostas de internautas, processá-las e fornecer matéria-prima para o que os especialistas chamada de inovação reversa, ou seja, ideias e processos inovadores surgidos a partir de pessoas comuns.
Analisando a questão da reinvenção da cobertura jornalística local a partir da participação do público é possível ver como a mudança dos paradigmas atuais pode gerar processos de mudança social que vão muito além do mero ato de consumir passivamente o noticiário oferecido pela imprensa contemporânea.
[1] Preferências registradas na manhã de segunda-feira (7/5). Os temas podem mudar conforme a evolução da votação.