Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Propaganda e contrapropaganda no RS

A The Economist datada de
11-17 de março traz um encarte publicitário que reúne o governo do Rio Grande do
Sul e 13 empresas. São sete páginas encartadas no suplemento trimestral de
Tecnologia da revista. (Clique
aqui
para ver imagem da primeira página do encarte.) Sabe-se lá quanto
custou.


Cinco telefonemas para o governo
gaúcho não encontraram ninguém que soubesse falar da peça, produzida por uma
empresa chamada Globalpress. No Brasil
é comum que um setor não converse direito com o outro. Quem articulou a
propaganda não deve contado para muita gente no governo. O Observatório da
Imprensa ainda aguarda, neste momento, um retorno do secretário do
Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais, Luiz Roberto Ponte, que passou o
dia em viagem no interior.


O encarte é aberto com entrevistas
do governador, Germano Rigotto, e do secretário Ponte. Tratam de uma meta que o
governador proclama insistentemente: atrair investimentos com a preocupação
prioritária de reduzir as desigualdades entre regiões gaúchas. Rigotto em
diferentes ocasiões falou da diferença entre o norte industrializado (com
importantes pólos metal-mecânicos e bons índices de desenvolvimento humano) e o
sul, dependente da pecuária e da monocultura, em situação tornada ainda mais
crítica pela forte seca de 2005.


Dois setores merecem destaque:
estaleiros e exploração florestal sustentável. Das palavras de Rigotto, em
tradução livre: “Três grandes grupos, Votorantim, Stora-Enso e Aracruz, vão
investir cerca de R$ 150 milhões anuais cada um para plantar novas florestas. A
meta é criar fábricas para a produção de celulose e papel que envolvam um
investimento de mais de US$ 1 bilhão”.


E o secretário Ponte complementa:
“Como a indústria florestal é um investimento de longo prazo, os investidores
querem ter estabilidade jurídica e política para aplicar recursos. Nosso papel é
informar a sociedade sobre a maneira como os investimentos vão beneficiar a
região e garantir aos investidores o reinado da lei. Por intermédio do banco
nacional de investimento, BNDES, e dos bancos locais de investimento, Caixa RS e
BRDE, empreendedores têm acesso a produtos financeiros específicos para investir
em atividades florestais”.


O encarte prossegue: “Segundo Ponte,
é indispensável criar um ambiente receptivo, de boas-vindas, para trazer novos
investidores, e isso é exatamente o que o governo está conseguindo. Ponte
acrescenta que o governo tem grande interesse em preservar o meio ambiente no
processo de desenvolvimento da região”.


Faltou combinar com a Via Campesina,
o MST e João Pedro Stédile, representante do movimento. Porque três dias antes
de entrar em circulação a revista, mulheres da Via Campesina, como se sabe,
destruíram ao som de Guantanamera precisamente mudas de eucaliptos
destinados a projetos de reflorestamento da Aracruz Celulose, no interior do Rio
Grande do Sul.


Curioso país, o Brasil, terão
pensado os leitores do encarte aos quais chegaram notícias sobre o atentado.