A televisão, sempre em busca de imagens ‘fortes’ – e pode ser verão, outono, inverno, primavera, verão… -, descobriu o filão dos bebês abandonados depois que Letícia foi jogada numa lagoa em Belo Horizonte.
Urgente: alguém precisa proteger os bebês. Sabe-se que muita gente de miolo mole confunde aparecer na televisão com adquirir prestígio. Já Chico Buarque de Holanda, em 1981, falava do Guri (O Meu Guri) que, par a mãe, era lindo ‘de papo pro ar’: ‘Chega estampado, manchete, retrato/Com venda nos olhos, legenda e as iniciais‘.
É uma eterna contradição entre informar e disseminar más idéias.
Pede-se urgentemente a especialistas que opinem: em que medida esse tipo de reportagem aumenta o número de casos, ou não influi, ou nem houve aumento neste início de 2006?
Em nova reportagem, hoje (8/2), no Jornal Hoje, uma mulher é acusada de ter abandonado uma recém-nascida no estacionamento de uma maternidade do Rio de Janeiro. Foi presa. Seu documento de identidade ficou disponível. A televisão não quer saber de rito processual: já mostrou o rosto da mulher. Impiedosamente.
Explicação que a mulher teria dado: não tem como criar o quinto rebento. A reportagem informa: o Conselho Tutelar, ou o Juizado de Menores, enfim, a autoridade competente vai averiguar se a família tem condição de receber a pequena (cuidadosamente; vestida, enrolada numa manta) abandonada. Desce o pano. Ninguém se incomodou em explicar o que acontecerá com os outros quatro filhos se a mãe ficar presa.