Uma leva de novos projetos editoriais está invertendo a lógica tradicional vigente na web e que privilegia atualidade e autoria. A grande preocupação parece ser agora priorizar a qualidade de textos, fotos, vídeos e da interatividade em geral sobre a popularidade e audiências.
Pelo menos seis novas iniciativas estão entrando agora no mercado tendo como preocupação central fugir da obsessão com o personalismo e com a regra da ordem cronológica invertida (o mais novo em primeiro lugar) predominante nos blogs e no Twitter. Projetos como o Medium apostam no que definem como coleções, ou seja, assuntos organizados em grupos ou áreas onde a hierarquia é definida pelas preferências dos visitantes do site.
Medium foi idealizado pelos mesmos criadores do Blogger e do Twitter, dois dos mais badalados projetos da web voltados para a autoria individual e pela a publicação em ordem cronológica inversa. Branch, App.Net e Svbtle são outras experiências que exploram o descontentamento de um grande numero de internautas contra o estrelismo dos blogueiros e o tiroteio verbal entre comentaristas de textos publicados em blogs.
Cada um desses projetos usa métodos diferentes, mas todos eles têm em comum a promessa de valorizar a qualidade dos conteúdos publicados. Ainda é cedo para dizer se essa nova tendência na publicação de material jornalístico vai se consolidar ou não na internet. Todos os novos sites estão em fase experimental (beta) e as pessoas podem se inscrever para participar dos testes, apesar do software ainda não ser considerado operacional.
O respeitado Nieman Journalism Lab considerou extremamente promissor o fato de um grande número de internautas terem se inscrito como cobaias nas novas propostas de organização e seleção de informações na web.
O projeto Medium resolveu usar o mesmo sistema de seleção de artigos desenvolvido pela revista de tecnologia Slashdot, a primeira da web a apostar na controvertida tese da “sabedoria das multidões” (crowd sourcing). Os artigos são agrupados em coleções e os mais lidos vão para o topo da página, contrariando a lógica dos blogs e seguindo o velho principio da relevância adotado pelos jornais impressos.
As coleções podem ser abertas ou fechadas ao público em geral. Podem focar especificamente em textos, em fotos, em vídeos, infográficos, multimídia ou qualquer outra área de interesse na comunicação. Os autores podem publicar textos como num blog normal ou simplesmente votar em material alheio. Com isso os responsáveis pelo Medium querem evitar a ressaca autoral de muitos blogueiros, que já não aguentam mais a obrigação de postar frequentemente conteúdos novos.
Embora os projetos não se apresentem como tal, fica evidente a sua preocupação com a curadoria informativa, ou seja, organizar os conteúdos em função de áreas de interesse do leitor ou visitante. No Medium e no Branch, a autoria não é o item mais importante de um texto e sim a sua relevância, partindo-se do princípio de que a credibilidade e a originalidade são um pré-requisito. No Svbtle, os autores são selecionados pelos editores do projeto com base no seu currículo profissional.
A aposta das novas iniciativas torna-se ainda mais complexa quando se sabe que uma das principais razões da vertiginosa expansão da web nos últimos 20 anos foi a possibilidade de os indivíduos poderem publicar autonomamente as suas ideias, opiniões, memórias, experiências e projetos. Inverter esse fluxo não deixa de ser uma atitude arriscada, mas segundo Ev Williams, o cérebro por trás do Medium, “as pessoas estão começando a ficar cansadas do personalismo na blogosfera”. Quando isso é dito pelo criador do Blogger, dá para pensar.
Aliás, a referência ao personalismo é importante porque está se tornando cada vez mais clara a migração dos projetos online de uma perspectiva individual para as organizações, o que sinaliza também uma mudança na cultura online. O individualismo é mais criativo, mas é instável. As organizações são bem mais previsíveis, embora tendam sempre para a rotina e conservadorismo.