Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Qualificando a corrupção

Parafraseando um certo filósofo alemão que já foi incomparavelmente mais popular, é o caso de dizer que o mundo da mídia – impressa e na internet – virou um vasto arsenal de reportagens, comentários e entrevistas sobre a ‘Carta aos eleitores do PSDB’, publicada por Fernando Henrique no site do partido, a 7 de setembro.

Das entrevistas com o próprio, a mais quente está na Folha de hoje. Foi feita pelo correspondente do jornal em Washington, Sérgio Dávila, aproveitando uma passagem do ex-presidente pelos Estados Unidos.

Nela, FHC diz em dado momento que o mensalão é ‘corrupção das instituições, é crime de responsabilidade. É o crime mais grave, politicamente falando, da República’.

Sem querer ser engenheiro de obra feita, muito menos querer crucificar o entrevistador que, no calor do pingue-pongue, não dá a melhor rebatida que uma resposta possa merecer, parece importante consignar em ata alguns pontos para a reflexão do leitor:

1. Corrupção institucional é, sim, o mais grave crime político que se pode cometer.

2. O mensalão é corrupção institucional ou corrupção política?

3. Corrupção política é comprar votos no Legislativo. [Comprar votos populares é corrupção eleitoral.] Como aconteceu no governo Lula – e também na votação da emenda constitucional que instituiu a reeleição, em 1997, pouco importando se os votos comprados são suficientes para mudar o resultado de uma votação.

4. Agora, corrupção institucional é modificar uma instituição para adaptá-la a interesses de governantes ou parlamentares. O sistema eleitoral, por exemplo, é uma instituição. Nesse sentido, é corrupção institucional mudar as regras do jogo eleitoral durante o andamento da partida. Foi o que aconteceu quando o Congresso aprovou o projeto da reeleição para entrar em vigor já em 1998, deixando claro que ela tinha sido concebida para beneficiar o então presidente. Do contrário, como seria apropriado e legítimo, só vigoraria de 2002 em diante.

Teria sido interessante saber como FHC reagiria se o repórter da Folha o provocasse com essa comparação, assim que ele tivesse acabado de falar em ‘corrupção das instituições.

Fica para outra.

P.S. Sobre o vaivém do voto da elite

Agradeço aos leitores André Vieira e Mauro Correa por chamar a atenção para o aumento da margem de erro numa pesquisa quanto menor o universo pesquisado.

Isso se aplica à parcela dos eleitores brasileiros mais ricos e instruídos. Eles representam 5% dos entrevistados nas sondagens eleitorais.

Se a margem de erro geral das pesquisas é de 2% – indicando que a porcentagem apurada pode ser 2 pontos maior ou menor –, no caso específico da sub-amostra de ricos e instruídos, a margem de erro seria de 9 pontos (nos cálculos de André Vieira) ou de 7 (conforme Mauro Correa).

Com tamanha margem de erro, advertiram, pouco ou nada se pode afirmar com segurança sobre ‘o vaivém do voto da elite’, como intitulei a minha nota de ontem sobre a questão.

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