O título deste post do blog do jornalista Roy Greenslade, publicado pelo jornal inglês The Guardian, pode parecer apenas uma frase de efeito, mas é na verdade uma das conclusões da análise dos resultados do tradicional Relatório sobre Conduta Social produzido anualmente desde 1983, com base em pesquisas sobre o comportamento dos cidadãos britânicos.
O relatório, divulgado no dia 23 de janeiro, contém um capítulo inteiro com dados sobre a relação entre os ingleses e a imprensa, mostrando uma queda média de 20% no índice de leitura dos jornais britânicos nas últimas duas décadas. Mas não foi este percentual que mais impressionou os observadores da mídia mundial.
Para a maioria deles, como Roy Greenslade, também professor de jornalismo na universidade de Londres, a situação tornou-se alarmante porque apenas 3% dos que deixaram de ler jornais passaram a buscar notícias na Web.
Isto significa que está crescendo o número de pessoas que simplesmente deixaram de se preocupar com as notícias num país como a Inglaterra, considerado um paradigma mundial em matéria de jornalismo e informação pública.
As conclusões do relatório levaram cientistas políticos e comunicólogos europeus a associar a perda de interesse pelo noticiário dos jornais como possíveis riscos para o sistema democrático.
Um deles, o professor de ciência política da universidade de Strathclyde, John Curtice, afirmou que os jornais não conseguem mais despertar o interesse dos leitores pela política e alertou que “os parlamentares deveriam parar se preocupar com o poder da imprensa para prestar mais atenção às debilidades da mídia de massas”.
Até a divulgação do relatório inglês, acreditava-se que a maioria das pessoas desiludidas com a imprensa buscava refugio informativo na internet, mas os novos dados revelaram que a mudança de hábitos provavelmente está ligada a razões bem mais complexas do que a simples inabilidade dos jornais em atrair a atenção dos leitores.
Um dos motivos salientados por autores como Cass Sunstein, autor do livro Infotopia, é a mudança de características da notícia jornalística a partir da avalancha informativa gerada pela internet. A notícia tornou-se algo tão ubíquo e freqüente que deixou de ser uma coisa rara e, conseqüentemente, perdeu valor comercial — o que afetou diretamente os jornais que a usavam, e ainda usam, como fator para atrair publicidade paga.
Uma regra básica do sistema capitalista diz que todo produto, bem ou serviço com excesso de oferta perde valor de troca. É justamente isto que está acontecendo com a notícia, mas é necessário não confundi-la com informação. A noticia é um dado, fato ou situação nova que serve de base para a produção de informação, ou seja, uma noticia contextualizada (causas, conseqüências, beneficiados e prejudicados).
Os jornalistas e os leitores, em geral, confundem as duas coisas, mas para entender o que está acontecendo é necessário separá-las. A notícia perdeu valor comercial, mas a demanda por informação está em alta porque ela é a matéria-prima para a tomada de decisões.
O que está acontecendo com os jornais é que além de atuarem num ambiente informativo já saturado de notícias, eles também erram no cardápio, ao insistir numa agenda noticiosa associada a interesses partidários e corporativos.
Os leitores estão cansados de mais notícias sobre os mesmos atores e o desinteresse pela agenda dos jornais não tem relação direta com supostas ameaças ao sistema democrático.