Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Rádio all news vai fazer 15 anos no Brasil

A CBN completa 15 anos em 2006 com a notícia de que jornalismo sério pode dar dinheiro. Sua diretora executiva, Mariza Tavares, orgulha-se, em entrevista ao Observatório da Imprensa, do “bom jornalismo, direto na notícia, sem fazer negociatas de balcão, que infelizmente ainda acontecem com alguma regularidade, principalmente no rádio”. A CBN São Paulo é hoje, dentro do Sistema Globo de Rádio, a que tem maior margem de rentabilidade, informa Mariza.


Em 1997, a emissora passou por uma reforma. A providência principal foi reduzir a uma só três redações que competiam entre si. O modelo de rede que funciona hoje significou um corte significativo de custos.


Há perdas e dificuldades decorrentes do equacionamento de um modelo de negócios. Mariza foi a Londres durante a negociação de uma parceria com a BBC e viu que a produção de um programa semelhante ao de Heródoto Barbeiro na CBN, das seis às nove da manhã, conta com 60 pessoas. “Eu pensei: Nunca vou contar isso para o Heródoto… Porque nós trabalhamos com uma produção de quatro, cinco pessoas”, brinca a jornalista.


Mas a situação da Central Brasileira de Notícias não pode ser classificada como precária. Em quatro cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, trabalham 150 jornalistas. O salário inicial na CBN é de R$ 2 mil. Na avaliação de Mariza “é baixo”, mas “não absurdamente baixo”. Há emissoras afiliadas em vinte outras cidades.


O rádio é o primo pobre das mídias, em matéria de publicidade, mas a CBN, comemora Mariza, “foi de patinho feio a cisne de história infantil. As pessoas querem estar na CBN. É um retorno que eu tenho da própria diretoria comercial sobre como as pessoas programam mídia: ´Eu não vou fazer rádio, vou fazer só CBN´, dizem”.


Dinheiro para ter equipes e salários maiores nunca foi critério exclusivo ou principal de qualidade no jornalismo, embora na primeira grande revolução do jornalismo brasileiro, da Última Hora de Samuel Wainer, tenha sido importante a profissionalização dos jornalistas. Um dos fatores decisivos é a credibilidade. A CBN, pela voz de sua diretora executiva, tem esse fator como um trunfo.


“Tem gente que acha que nós somos petistas, os petistas acham que somos tucanos. Acho que isso é bom”, diz Mariza. “Nós perseguimos o acerto, sempre, mas também não escondemos o erro”.


A CBN não é só jornalismo, como propõe a categoria que inaugurou no rádio brasileiro, “all news”, mas está longe de ser uma mistura de jornalismo com entretenimento, como são as redes abertas de televisão, ou mesmo revistas e jornais.


Quando a emissora foi criada, a CNN era a única coisa parecida que se via – muito pouca gente via, porque a TV a cabo mal tinha surgido – no Brasil. No Rio de Janeiro, a Rádio JB tinha deixado de fazer o bom jornalismo que a caracterizou no período de glória, quando, entre outros feitos, desmontou uma fraude para eleger Moreira Franco em lugar de Leonel Brizola governador do Rio de Janeiro (1982). Em São Paulo, a Bandeirantes e a Jovem Pan valorizam o jornalismo e competem com a CBN. Há quase um ano, o modelo all news foi com a estréia da Band News FM.


Pesquisa feita em São Paulo pelo Ibope entre outubro e dezembro de 2005 mostra Band AM e CBN emboladas, a Jovem Pan um pouco atrás. A Capital AM está à frente das três e a Globo AM é um ponto fora da curva: chega a 800 mil ouvintes por minuto, enquanto nenhuma das outras ultrapassa 150 mil ouvintes. Essa pesquisa, segundo o Ibope, é feita por meio de entrevistas retrospectivas (“recall”), ou seja, “o respondente informa sobre quais horários e emissoras ouviu nos dois últimos dias”. É uma pesquisa por aproximação.


O início da atividade da CBN, quando não existia a internet, mexeu com a apuração e a edição em jornais e na televisão. Seu batismo de fogo foi a crise de que resultou o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. De lá para cá, as mudanças tecnológicas se intensificaram e mexeram com o modo de trabalhar da CBN. “Minha competição é com rádio? Sei lá, é com a GloboNews, talvez, com os sites, é muito mais amplo o leque de veículos com que você está jogando o jogo”, constata Mariza.


A análise da trajetória da CBN não se esgota no depoimento de Mariza. Heródoto Barbeiro, âncora em São Paulo, e Luiz Henrique Iagelovic, diretor da CBN Belo Horizonte, respondem, após a entrevista da diretora executiva, a algumas perguntas sobre a emissora. Heródoto diz que o maior desafio agora é “desenvolver a propagação através da internet”. Para Luiz Henrique, Ike, é “não deixar o formato [adotado em 1997/98] caducar e, com criatividade, trazer novidades que atendam ao ouvinte”.


A avaliação sobre a CBN e o radiojornalismo brasileiro terá tanto maior qualidade quanto mais pessoas intervierem nesta conversa.


Clique aqui para ler os trechos principais da entrevista de Mariza Tavares.


Clique aqui para ler respostas de Heródoto Barbeiro e Luiz Henrique Iagelovic a um questionário sobre a CBN.