A CBN completa 15 anos em 2006 com a notícia de que jornalismo sério pode dar dinheiro. Sua diretora executiva, Mariza Tavares, orgulha-se, em entrevista ao Observatório da Imprensa, do “bom jornalismo, direto na notícia, sem fazer negociatas de balcão, que infelizmente ainda acontecem com alguma regularidade, principalmente no rádio”. A CBN São Paulo é hoje, dentro do Sistema Globo de Rádio, a que tem maior margem de rentabilidade, informa Mariza.
Em 1997, a emissora passou por uma reforma. A providência principal foi reduzir a uma só três redações que competiam entre si. O modelo de rede que funciona hoje significou um corte significativo de custos.
Há perdas e dificuldades decorrentes do equacionamento de um modelo de negócios. Mariza foi a Londres durante a negociação de uma parceria com a BBC e viu que a produção de um programa semelhante ao de Heródoto Barbeiro na CBN, das seis às nove da manhã, conta com 60 pessoas. “Eu pensei: Nunca vou contar isso para o Heródoto… Porque nós trabalhamos com uma produção de quatro, cinco pessoas”, brinca a jornalista.
Mas a situação da Central Brasileira de Notícias não pode ser classificada como precária. Em quatro cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte, trabalham 150 jornalistas. O salário inicial na CBN é de R$ 2 mil. Na avaliação de Mariza “é baixo”, mas “não absurdamente baixo”. Há emissoras afiliadas em vinte outras cidades.
O rádio é o primo pobre das mídias, em matéria de publicidade, mas a CBN, comemora Mariza, “foi de patinho feio a cisne de história infantil. As pessoas querem estar na CBN. É um retorno que eu tenho da própria diretoria comercial sobre como as pessoas programam mídia: ´Eu não vou fazer rádio, vou fazer só CBN´, dizem”.
Dinheiro para ter equipes e salários maiores nunca foi critério exclusivo ou principal de qualidade no jornalismo, embora na primeira grande revolução do jornalismo brasileiro, da Última Hora de Samuel Wainer, tenha sido importante a profissionalização dos jornalistas. Um dos fatores decisivos é a credibilidade. A CBN, pela voz de sua diretora executiva, tem esse fator como um trunfo.
“Tem gente que acha que nós somos petistas, os petistas acham que somos tucanos. Acho que isso é bom”, diz Mariza. “Nós perseguimos o acerto, sempre, mas também não escondemos o erro”.
A CBN não é só jornalismo, como propõe a categoria que inaugurou no rádio brasileiro, “all news”, mas está longe de ser uma mistura de jornalismo com entretenimento, como são as redes abertas de televisão, ou mesmo revistas e jornais.
Quando a emissora foi criada, a CNN era a única coisa parecida que se via – muito pouca gente via, porque a TV a cabo mal tinha surgido – no Brasil. No Rio de Janeiro, a Rádio JB tinha deixado de fazer o bom jornalismo que a caracterizou no período de glória, quando, entre outros feitos, desmontou uma fraude para eleger Moreira Franco em lugar de Leonel Brizola governador do Rio de Janeiro (1982). Em São Paulo, a Bandeirantes e a Jovem Pan valorizam o jornalismo e competem com a CBN. Há quase um ano, o modelo all news foi com a estréia da Band News FM.
Pesquisa feita em São Paulo pelo Ibope entre outubro e dezembro de 2005 mostra Band AM e CBN emboladas, a Jovem Pan um pouco atrás. A Capital AM está à frente das três e a Globo AM é um ponto fora da curva: chega a 800 mil ouvintes por minuto, enquanto nenhuma das outras ultrapassa 150 mil ouvintes. Essa pesquisa, segundo o Ibope, é feita por meio de entrevistas retrospectivas (“recall”), ou seja, “o respondente informa sobre quais horários e emissoras ouviu nos dois últimos dias”. É uma pesquisa por aproximação.
O início da atividade da CBN, quando não existia a internet, mexeu com a apuração e a edição em jornais e na televisão. Seu batismo de fogo foi a crise de que resultou o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. De lá para cá, as mudanças tecnológicas se intensificaram e mexeram com o modo de trabalhar da CBN. “Minha competição é com rádio? Sei lá, é com a GloboNews, talvez, com os sites, é muito mais amplo o leque de veículos com que você está jogando o jogo”, constata Mariza.
A análise da trajetória da CBN não se esgota no depoimento de Mariza. Heródoto Barbeiro, âncora em São Paulo, e Luiz Henrique Iagelovic, diretor da CBN Belo Horizonte, respondem, após a entrevista da diretora executiva, a algumas perguntas sobre a emissora. Heródoto diz que o maior desafio agora é “desenvolver a propagação através da internet”. Para Luiz Henrique, Ike, é “não deixar o formato [adotado em 1997/98] caducar e, com criatividade, trazer novidades que atendam ao ouvinte”.
A avaliação sobre a CBN e o radiojornalismo brasileiro terá tanto maior qualidade quanto mais pessoas intervierem nesta conversa.
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