Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Receitas de fim de ano para salvar os jornais


Pelo menos cinco importantes pesquisadores norte-americanos trocaram neste fim de ano os tradicionais balanços por conselhos sobre como achar uma saída para a crise na qual a imprensa mergulhou em consequência das mudanças provocadas pela internet no cardápio dos consumidores de informação.


A preocupação em buscar soluções dá bem uma amostra de como o problema dos jornais está deixando de ser uma questão tratada a portas fechadas para entrar na agenda da própria mídia. Trata-se de uma importante mudança de percepções da crise e um sintoma de como os grandes impérios da comunicação não estão tendo outra alternativa senão abandonar a autosuficiência e a arrogância.


O primeiro grande estudo sobre o futuro da imprensa a ser divulgado neste fim de ano nos Estados Unidos foi o artigo dos pesquisadores Shayne Bowman e Chris Willis publicado na prestigiada revista Nieman Reports (ainda não disponível em versão web) na qual os dois afirmam que os grandes grupos jornalísticos norte-americanos estão pagando caro por terem menosprezado o surgimento da internet.


O que está disponivel online é uma versão condensada publicada pelo site Hypergene . Bowman e Willis afirmam que no passado os barões da imprensa norte americana souberam enfrentar os desafios de novas tecnologias como o telégrafo, o rádio e a televisão, usando-os em benefício próprio. Mas sua arrogância e autosuficiência teria sido a causa determinante da pouca atenção dada à internet ao não procurar entender as mudanças sociais que ela está provocando no público consumidor de informações.


Steve Yelvington, um especialista em estratégias de comunicação jornalística produziu um texto  no qual aconselha os donos de jornais a prestar atenção aos seguintes fenômenos:


1) A crescente integração entre as redações online e offline dos jornais. A separação existente até agora é um absurdo financeiro e uma irracionalidade administrativa;


2) Nas grandes cidades os jornais locais e as edições gratuitas começa a formar a base do sistema de informação do público. Os jornais globais são cada vez mais um produto da elite.


3) A principal ferramenta de comunicação comunitária já são os sites, eblogs e portais locais, porque eles funcionam como instrumento para a socialização informativa.


4) Metade do conteúdo informativo dos jornais já pode ser acessado gratuitamente pela internet.


5) As pesadas e aborrecidas páginas editorais perdem leitores para os fóruns onde as pessoas leem opiniões de outras pessoas.


Por seu lado , Mike Hughlett, um dos principais repórteres do jornal Chicago Times resolveu analisar com lupa  a migração dos anúncios classificados para a internet.O interessante é que Hughlett evita tanto a visão apocalíptica como também as desculpas superficiais para afirmar que os jornais ainda têm lucros consideráveis com os classificados mas se mostram lentos e pouco criativos na reação às investidas de sites como o CraigList e os projetos do Google.


Finalmente Jon Fine, da revista Business Week  usa um pouco de bom humor e ironia para sugerir cinco medidas que, segundo ele, poderiam salvar a maioria dos grandes jornais:


1) Oferecer anúncios grátis para reconquistar clientes perdidos para a internet;


2) Criar duas edições diferentes do mesmo jornal: uma grátis em formato tabloide para o público menos interessado em notícias; outra mais sofisticada, paga, para leitores da elite. É o que os jornais The Washington Post e Chicago Tribune já estão fazendo;


3) Reorganização implacável das rotinas de redação como por exemplo: acabar com a publicação do movimento nas bolsas de valores (a web é muito mais rápida e eficiente). eliminar as edições de fim de semana quando o custo benefício for desfavorável à empresa, ou usar blogueiros ou free lancers para coberturas distantes e caras;


4) A cobertura local está atraindo cada vez mais leitores;


5) Usar os leitores para obter informação, para desenvolver laços comunitários e para obter anúncios. Há centenas de pessoas dispostas a funcionar como repórteres amadores a custo quase zero, desde que sejam reconhecidas como parceiros pelos jornais.


A lista de receitas poderia ser maior ainda se incluíssemos neste texto as dezenas de sugestões incluídas em blogs sobre a mídia. São os primeiros movimentos no sentido de abrir a discussão sobre o futuro dos jornais, rompendo o monopólio que os grandes grupos mantém sobre a caixa preta da comunicação jornalística, na maioria dos países ocidentais.


Pessoal, gostaria de desejar a todos vocês um feliz 2006 e votos que a gente possa trocar muitas idéias ao longo dos próximos 12 meses. Um abração para todos.