A Justiça Eleitoral proibiu hoje a Rede Globo de falar em ‘referendo do desarmamento’. Tem de ser ‘referendo sobre a proibição ou não do comércio de armas de fogo e munição’ – um breve contra a linguagem jornalística.
A decisão saiu a pedido da Frente Parlamentar Pelo Direito da Legítima Defesa – a chamada Frente do Não.
O pessoal do Não não quer ver o referendo associado na percepção dos brasileiros à palavra desarmamento – como se de outra coisa se tratasse e como se as pessoas não usassem essa palavra quando falam do assunto, contra ou a favor.
Em 1993, houve no país um plebiscito sobre o regime de governo – presidencialista ou parlamentarista. Era o plebiscito do parlamentarismo, diziam todos. Ganhou o presidencialismo.
Se tivesse havido um plebiscito sobre o direito (ou não) das pessoas se casarem de novo depois de uma separação conjugal, se chamaria plebiscito do divórcio.
Se um dia houver um plebiscito sobre o direito (ou não) da interrupção da gravidez, será o plebiscito do aborto.
Pela simples razão de que, em cada consulta popular, o nome usual do que está em jogo é dado pelo termo que exprime a possibilidade de mudança, não a continuidade, qualquer que seja a formulação da consulta.
Por isso, na linguagem corrente, nunca houve um plebiscito do presidencialismo. Nem haveria o do casamento. Nem haverá (se houver) o da gestação.
Já pensaram num “referendo do armamento”?
Claro que as palavras são neutras só nos dicionários. Raras não têm carga emocional, positiva (como desarmamento) ou negativa (aborto). As coisas são como são. Mas esse fator, isoladamente, não desempata jogo nenhum.
No caso atual, o que interessa ao público é se a Globo, ou qualquer outra emissora, cobre o referendo do dia 23 com isenção, objetividade e riqueza de informações. Se não o faz, pouco importa que os seus repórteres, comentaristas e âncoras tenham que falar, por ordem de um juiz, em “proibição ou não do comércio de armas de fogo e munição”.
***
Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.