O repórter Nicholas Kristof criou um dos mais originais modelos de tutoria de jovens jornalistas e entre todos os surgidos na profissão na última década. Desde 2006, ele promove em seu blog, no jornal The New York Times, um concurso para escolher um estudante de jornalismo que o acompanhará durante uma viagem de quase duas semanas pelas zonas pobres de algum país africano.
Este ano, pela primeira vez desde a criação do premio, além do estudante, Kristof levará também uma pessoa com mais de 60 anos, escolhida entre os candidatos que se inscreverem até o dia 18 de janeiro. O concurso é exclusivo para norte-americanos e os candidatos terão todas as despesas pagas pelo jornal e patrocinadores.
O original nesta iniciativa é uma combinação inédita de objetivos que vão desde a tutoria de um estudante de jornalismo num trabalho de campo em condições muito difíceis, até a produção colaborativa de reportagens envolvendo indivíduos com experiências completamente diferentes, passando pela tentativa de dar transparência ao trabalho de um correspondente estrangeiro.
A abertura de uma vaga para uma pessoa da terceira idade foi uma exigência deste segmento de leitores do blog On the Ground (No local) que escreveram para Kristof criticando a opção pelos mais jovens. Agora até avós podem viver uma aventura jornalística em zonas de guerra na África, junto a um repórter que cobre o continente há mais de 20 anos.
Alguns dirão que se trata de uma tentativa de criar um reality show em torno da atividade jornalística em países pobres. Mas o fato concreto é que o contato com realidades dramáticas tem feito com que muitos dos acompanhantes de Kristof desde 2006 tenham dado um giro radical em seus projetos de carreira, depois de concluída a viagem.
Das três jovens e do rapaz que ganharam prêmios anteriores, dois foram trabalhar em jornais comunitários na periferia de grandes cidades norte-americanas e um optou pela atividade filantrópica.
O projeto On The Ground tem obviamente uma parte comercial, pois os patrocinadores querem associar suas marcas a projetos humanitários. Mas a proposta bem que poderia ser repetida por outros jornais, inclusive aqui no Brasil. Seria uma forma de tentar reverter a tendência da esmagadora maioria dos estudantes de jornalismo de sonhar com um emprego na TV Globo.
O público já não se contenta mais com o jornalismo engravatado e deseja ver a realidade como ela é. Só que quando as empresas jornalísticas resolvem sair das redações, elas acabam optando pelo show pirotécnico, estilo tomada da favela do Alemão, no Rio de Janeiro. Os grandes protagonistas da cobertura são os repórteres e os personagens que eles escolheram como heróis ou super-homens. A realidade dos moradores de favelas merece apenas flashes esporádicos e depois é totalmente esquecida.
Os escolhidos para a viagem deste ano serão anunciados em fevereiro e seu destino ainda não é conhecido.
P.S. Gostaria de desejar um Feliz Natal a todas os amigos e amigas que visitaram este blog ao longo de 2010. O espaço virtual é muito interessante e atrativo, mas o olho no olho ainda é insubstituivel. Um dia espero conhecê-los pessoalmente. Um abraço a todos e todas, e mais uma vez, Feliz Natal.