Cobriu-se de glórias a repórter Fernanda Karakovics por ter conseguido se infiltrar, de gravador presumivelmente na bolsa, no festivo jantar do presidente Lula com as duas centenas de políticos – ministros, deputados, senadores, governadores e outras excelências – que compõem a elite pemedebista, anteontem à noite.
Graças ao engenho da jornalista da sucursal de Brasília da Folha, tornou-se público, na edição de hoje, o instrutivo pensamento vivo de Lula, expresso no discurso que ele pronunciou aos seus encantados anfitriões.
Excertos da fala presidencial:
‘Se um dia vocês chegarem à Presidência da República, vão perceber que esse é o ápice de um ser humano. Não tem nada além disso.’
‘São as circunstâncias históricas que permitem que, em determinados momentos, a gente seja mais progressista, mais conservador, que a gente seja amarelo ou seja verde. Quem faz política não pode ser que nem a parede de uma hidrelétrica, ‘imexível’ como diria o Magri [Antonio Rogério Magri, ministro do Trabalho no governo Collor].’
‘Qual é o cidadão que tinha pensamento progressista que, em 1974, não votou no Quércia para senador em São Paulo? Quem é o progressista deste país que, em 1978, não votava em Jader Barbalho para deputado federal no Estado do Pará?‘
[Como o jornal lembrou oportunamente, em 1994 Quércia acusou Lula de nunca ter dirigido nem um carrinho de pipoca, e Lula lhe respondeu que também nunca tinha roubado pipoca. A Folha lembrou ainda que Barbalho renunciou ao mandato de senador em 2001 para não ser cassado por corrupção.]
‘O nosso projeto não começa agora e não termina agora. O que vai acontecer com o Brasil a partir de 2010? A gente construiu um projeto de nação que tem que ter candidato a presidente, a vice-presidente, a governador, a deputado federal, a senador. Nós precisamos parar de ter medo de dizer essas coisas. Temos que continuar construindo um projeto que dê ao Brasil no século 21 aquilo que o Brasil jogou fora no século 20. E não foram poucas as oportunidades.‘
Com grande senso jornalístico, a Folha publicou, ao lado da matéria com as palavras de Lula, reportagem sobre uma palestra em Porto Alegre do secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho, o economista e fundador do PT, Paul Singer, em que ele disse: ‘Esse é um governo ambíguo e esquizofrênico. É de direita e de esquerda.’
P.S. Tucanos abatidos
Também fizeram a festa, à sua maneira, os repórteres Ricardo Amaral e Natuza Nery, da agência Reuters em Brasília. Eles tiverem a boa idéia de perguntar a alguns dos mais emplumados tucanos como se sentem diante das pesquisas que mostram a popularidade do presidente nas núvens. Colheram:
‘Estamos aniquilados.’ (José Aníbal, deputado paulista e ex-presidente do PSDB).
‘A Câmara se transformou numa extensão do Executivo.’ (Arnaldo Madeira, deputado paulista e ex-secretário de Governo na gestão Alckmin).
‘Dá até desânimo de fazer oposição.’ (Gustavo Fruet, deputado parananense e ex-candidato à presidência da Câmara, pelo movimento Terceira Via).
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