A revista online Industry Standard ressuscitou das cinzas da bolha especulativa na virada do século com uma proposta que vai dar muito o que falar. Ela pretende desenvolver uma controvertida modalidade de jornalismo que mistura bola de cristal, com loteria e pregão da bolsa de valores.
Esta eclética e pouco ortodoxa combinação de previsões, com apostas e cotações busca oferecer aos leitores uma agenda noticiosa do futuro ou uma bolsa de futuros da informação, baseando-se nas opiniões de leitores e especialistas.
Apesar de poder ser facilmente classificado de delirante, o projeto da Standard, tentará adaptar ao jornalismo a teoria dos mercados de previsão, um tema pesquisado há anos pelo respeitado professor Thomas Malone, do MIT. O sistema é considerado uma das formas mais promissoras de consolidação de conhecimentos na era da avalancha informativa.
Esta teoria parte de leis da estatística e da matemática para afirmar que um grupo de pessoas, bem informadas e cultas, pode prever fenômenos e processos com alto grau de probabilidade.
Os primeiros a usar a teoria dos mercados de previsão foram obviamente os operadores em bolsas de valores, há quase 20 anos. Depois foi a vez das empresas de grande porte, onde hoje o sistema é usado largamente.
A Google, a mais valorizada empresa da internet, faz todo o seu planejamento futuro com base nos resultados de mercados de previsão, formado por grupos de funcionários que palpitam sobre o quais os novos produtos e estratégias.
O professor de direito da universidade de Chicago, Cass Sunstein, listou no seu livro Infotopia, 20 grandes empresas e organismos estatais do mundo inteiro que usam rotineiramente o sistema em suas decisões estratégicas.
Uma das mais conhecidas é a Hollywood Stock Exchange, uma bolsa de previsões sobre o êxito ou fracasso de filmes. Não se trata de um site de fofocas ou adivinhações. Ele é levado tão a sério que a maioria dos diretores de Hollywood não inicia um novo projeto sem consultar o mercado de previsão da indústria cinematográfica.
Outra empresa muito respeitada no mundo dos negócios é a NewsFutures, que também utiliza o sistema de mercados de previsão para antecipar inovações industriais, novos produtos eletrônicos, tendências de consumo e performance de corporações,
A proposta da Industry Standard é usar seus editores, leitores e colaboradores para tentar prever o que acontecerá na área das novas tecnologias da informação, em especial na internet.
Para participar do sistema os leitores necessitam se cadastrar na revista e de cara recebem um crédito de 100 mil dólares Standard, uma moeda fictícia, que serve como parâmetro para as apostas em notícias, no mercado de previsões da Standard. Se a previsão de confirmar, o leitor recebe o dobro do que apostou.
Os ganhos podem ser trocados por prêmios ou por posições no ranking dos mais bem sucedidos adivinhadores de grandes notícias.
No dia em que escrevi este post, 54% dos oráculos da revista previam que a Google lançaria o seu celular Android, a partir do dia 18 de fevereiro. Na mesma edição do dia 8/2, o fechamento da compra da Yahoo pela Microsoft aconteceria em meados de março, na opinião de 49% dos integrantes do mercado de previsões noticiosas da revista.
O futuro da experiência da Standard ainda é um mistério para seus leitores e principalmente para os investidores no mercado de notícias na Web. Os editores afirmam que o projeto da revista passou no teste dos mercados de previsão, mas não forneceram nenhum detalhe sobre o resultado.