Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Revista Time demora quatro anos para reconhecer a Web 2.0


Custou mas a grande imprensa acabou reconhecendo o novo protagonistmo de leitores, ouvintes, espectadores e internautas na formação da agenda pública de debates. Não se trata de uma mudança simples e provavelmente a maioria dos donos de empresas de comunicação ainda não se deu conta de todas as implicações desta nova realidade criada pela internet.


O reconhecimento da revista Time em sua tradicional capa dedicada ao personagem do ano  deixou de lado as figurinhas fáceis como políticos, presidentes, esportistas, estrelas de cinema ou escritores para eleger o cidadão comum como a figura mais destacada de 2006.


Capa Time


O protagonismo do João Ninguém surge em consequência do poder que ele conqusitou na internet porque no mundo físico, o cidadão comum está cada dia mais marginalizado pelas instituições e pelos políticos.


Na sua matéria de capa a Time afirma: ‘ A nova Web é muito diferente (…das concepções anteriores sobre o papel da rede…). É uma ferramenta para juntar pequenas contribuições de milhões de pessoas
e faze-las relevantes. Os consultores de Silicon Vallery a chamam de Web 2.0, como se ela fosse a nova versão de algum software antigo. Mas, na realidade, ela é uma revolução‘.


Frase perfeita mas o que impressiona é a demora para ser impressa por uma revista que se autoposiciona na vanguarda do jornalismo mundial. Em 2004 aconteceu a primeira conferência mundial de especialistas em internet para discutir os rumos da Web 2.0, também conhecida como Web social e o evento só foi discutido na própria Web porque a imprensa convencional ignorou o tema.


O importante não é lamentar um esquecimento mas constatar a lentidão da grande imprensa mundial em detectar o surgimento de novos fenômenos sociais e tecnológicos que alteram radicalmente a hegemonia da mídia convencional na produção e distribuição de notícias.


Fica nítida a dificuldade da grande imprensa de sair de seu egocentrismo para ver aquilo que já é notícia velha para mais de meio bilhão de usuários da internet espalhados pelo mundo e o óbvio ululante para os 60 milhões de autores de weblogs espalhados pelo planeta.


As loas da Time à Web 2.0 não mencionaram no entanto o fato de que a expansão da Internet pelo mundo está criando uma cultura digital que se apoia em vários valores sociais e rotinas econômicas que são completamente diferentes das seguidas pelo establishment convencional.


O coletivo começa a predominar sobre o individual. O imediatismo cede espaço a resultados de médio e longo prazo. Figuras jurídicas e comerciais como direito autoral são atropeladas por conceitos como autoria compartilhada e recombinação de idéias. A certificação de credibilidade por instituições e personalidades passa a ser feita por sistemas eletrônicos baseados em cálculos de probabilidade, cujas informações são fornecidas por nós.


A gratuidade deixou de ser associada a filantropia para ser um direito assumido pelos internautas. O que antes era valorizado pela sociedade analógica como a informação e notícia, passar a ser matéria prima gratuita na Web 2.0, onde o valor agregado é criado pela contribuição de milhões de anônimos.


Na verdade estamos começando a viver um mundo dividido em duas culturas. Esta divisão é o grande dilema contemporâneo e o tema que poderia servir de capa para uma edição da Time. A grande incógnita é como a socialização crescente favorecida pela Web vai conviver com as normas capitalistas de produção no mundo físico.