Dois conglomerados de comunicação dos Estados Unidos acabam de ser vendidos sob pressão de investidores nas bolsas de valores que se mostram desconfiados até mesmo com a situação financeira de alguns ícones da impresa norte-americana. Numa mesma semana o rede de emissoras de radio Clear Channel, a maior dos Estados Unidos, e a revista The Reader´s Digest, um grupo de mídia impresssa com mais de 70 anos de vida, foram vendidos no pregão para investidores cuja preocupação básica são os dividendos e não o papel politico ou ideológico dos veículos em questão. Tanto a Clear como a Reader´s Digest tem uma clara posição conservadora dentro da imprensa norte-americana e não enfrentavam problemas financeiros graves. No ano passado, o conglomerado jornalístico Knight Ridder, um dos cinco maiores dos EUA, foi vendido no auge de uma crise de confiança no futuro da empresa e de um agudo processo de desvalorização de suas ações. Parecia uma exceção ou um exagero da corretora de valores Private Capital Management que recomendou a venda da Knight Ridder para evitar uma revolta de acionistas. Outras duas empresas de corretagem de ações na bolsa de Nova Iorque também participaram da operação. Mas hoje o ativismo dos corretores e acionistas de empresas de comunicação atingiu inclusive o The New York Times, o mais tradicional e estável jornal norte-americano, onde os investidores exigem que a familia Sulzberger venda a maioria das ações e deixe o controle da publicação. Nenhuma das empresas mencionadas está a beira da falência ou enfrenta grandes problems financeiros. O problema é que os acionistas estavam acostumados a dividendos de 20% ao ano, em média, e não se conformaram quando os jornais passaram a ter que conviver com lucros de 5% ou 6%, considerados saudáveis no caso da maioria das demais empresas norte-americanas. Também os acionistas da rede de jornais Tribune, outra das cinco maiores dos Estados Unidos, pressionam o conglomerado para resolver logo a situação do jornal Los Angeles Times às voltas com problemas financeiros. Os executivos da Tribune demitiram a pouco toda a alta direção do Times depois que esta se recusou a enxugar a redação para cortar custos operacionais. A rebelião dos acionistas de publicações norte-americanas mostra que a imprensa deixou de ser considerada um bom negócio, o que é bom por um lado e ruim pelo outro. Bom porque os jornais já não terão que fazer das tripas o coração para apresentar resultados financeiros capazes de alegrar o natal de seus mal acostumados acionistas. Ruim, porque os temores dos investidores e corretoras são altamente contagiosos no super-volátil pregão das bolsas de valores. Seguramente vai diminuir muito o número de interessados em colocar dinheiro num negócio que perdeu boa parte do glamour e poder de outras épocas.