Os jornalistas que cobrem o escândalo dos sanguessugas na CPI, Justiça Federal, Controladoria Geral da União e Polícia Federal precisam ter olhos na nuca para tentar enxergar por todos os lados o que possa haver de politização das investigações sobre a máfia das ambulâncias.
Há uma perigosa tendência nesse sentido. Começou com a acusação do tucano Geraldo Alckmin de que ‘a matriz’ de mais esse assalto ao erário está no Executivo – e não nos acertos entre um negociante espertalhão e pelo menos 90 parlamentares e ex, autores de emendas individuais ao orçamento para a compra superfaturada dos veículos destinados a municípios cujos prefeitos tinham parte com a armação, consumada, afinal, por assessores ministeriais, como a notória Maria da Penha Lino.
Além disso, Alckmin omitiu que as apurações do crime continuado se iniciaram neste governo, primeiro na CGI, depois na PF.
Daí se seguiu a divulgação, pelos ministros da Justiça e da CGU, de estatísticas segundo as quais o número de convênios de prefeituras com a Planam, a firma do capo Vedoin, foi maior na administração passada.
Mas hoje a Folha mostra, com dados da Polícia Federal, que a movimentação financeira da Planam deu um salto colossal na era Lula. Em 2002, movimentou R$ 3,46 milhões. Em 2003, R$ 3,19 milhões. E em 2004, R$ 21,22 milhões (caindo para R$ 14,46 no ano passado).
O jornal lembra também que em 2003 a CGU começou a investigar os convênios para a compra de ambulâncias, em 2004 o órgão alertou a Saúde e em 2005 o Ministério mudou as regras dos convênios, embora continuasse a assinar os das ambulâncias.
Enquanto isso, na CPI, a oposição acusou a CGU de querer ‘plantar’ mais quatro deputados – dois do PFL, um do PSDB e outro do PP – na lista dos 90 investigados, em processo de notificação. Puxa dali, empurra daqui, o presidente petista e o sub-relator tucano da CPI resolveram dar um tempo antes de bater o martelo sobre a notificação dos quatro, por parecerem tênues as suspeitas contra eles.
Essa informação é da Folha. Já o Valor sustenta que eles não serão notificados. O Estado dá um destaque enorme ao caso, mas não diz em que pé ficou.
De qualquer maneira, a pauta da cobertura dos sanguessugas se ampliou. Além da garimpagem de nomes, números e casos, e da divulgação do que há de mais quente nas 150 páginas do depoimento de Vedoin – a que o Globo e a Folha, mas não o Estado, conseguiram ter acesso –, a imprensa precisa marcar de perto governo e oposição para flagrar tentativas de pôr a lambança dos vampiros a serviço dos seus respectivos interesses eleitorais.
E, por falar nisso, até agora nenhum editorial pressionando os políticos a não misturar as coisas. Para não deitar a perder o que de bom se conseguiu até agora na maior investigação a que o Congresso já foi submetido.
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