Muito saudável a iniciativa do O Globo em ir contra o corporativismo. A nota ‘Fraude em jornais’, é verdade, é bem menor do que a notícia original distribuída pela agência norte-americana Associated Press – 60 palavras, contra 205 do original –, mas, assim mesmo, é um alento.
O texto do jornal brasileiro traz que:
‘Seis ex-diretores dos jornais americanos ‘Hoy’ (em espanhol) e ‘Newsday’ se declararam culpados de inflar os números de exemplares vendidos, informou sábado o ‘Newsday’. Os dois jornais pertencem ao grupo Tribune Co. O ‘Newsday’, entre 2000 e 2004, informou aos anunciantes uma tiragem superior à real em cem mil exemplares, e o ‘Hoy’, o dobro da real’.
Várias informações relevantes ficaram de fora na nota do O Globo. A primeira é que a empresa proprietária dos dois jornais – a Tribune Co., de Chicago – terá de ressarcir seus anunciantes em US$ 90 milhões. A segunda é quatro dos acusados operavam a partir dos departamentos de vendas, circulação, distribuição e distribuição para is assinantes, além de outros dois que trabalhavam em empresas contratadas pela distribuição. Os funcionários dos jornais já se declararam culpados pelo crime de formação de quadrilha com o objetivo de lesar terceiros,, que prevê penas entre quatro e vinte anos. A terceira, e talvez mais emblemática, diferença é que o ‘Newsday’ não escondeu a tramóia armada por seus diretores armaram, um tipo de comportamento difícil de se imaginar no nosso país, onde as tiragens de periódicos impressos, apesar da existência do IVC (Instituto de Verificação de Mídia), não desfrutam de confiabilidade.
Esse descrédito não atinge somente o Brasil, mas todos os países da América Latina, conforme consta na abertura do ‘World Press Trends’, o anuário preparado pela Wan (World Association of Newspapers), de 2004, com tiragens de todos os jornais mais importantes do mundo.
Na abertura do capítulo dedicado à América Latina, o anuário diz:
‘Na América Latina, onde é difícil obter-se dados confiáveis, a venda de jornais brasileiros cresceu 0,8% em 2004, mas caiu 17,2% nos últimos cinco anos’.
O jornalista espanhol Miguel Ángel Bastenier, que representa o El País na direção da WAN, confirma o descrédito. Há duas semanas, durante seminário realizado em Madri, ele disse que os jornais latino-americanos ‘põe qualquer número’ para quantificar suas tiragens.