Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

‘Se a notícia é importante, ela virá até nós’

Pouca gente deu a devida importância a esta frase quando ela apareceu no relatório sobre novos hábitos informativos dos jovens norte-americanos, divulgado em janeiro de 2008, pelo Pew Research Center for the People and the Press.


 


O informe mostrou que 2/3 dos entrevistados com menos de 30 anos se informam por meio de grupos de discussão, mensagens de amigos, comunidades virtuais e páginas da chamada Web 2.0, ou Web Social, onde os conteúdos são produzidos pelos usuários.


 


Passados quase cinco meses, a frase virou um slogan na boca da maioria dos analistas da internet, a partir de um fenômeno que a imprensa mundial também deu pouca importância.


 


Cinco minutos depois de o pré-candidato a presidente dos Estados Unidos Barack Obama ter feito, no dia 18 de março, um pronunciamento sobre questões raciais num vídeo publicado pelo site You Tube, a mensagem já tinha sido visualizada por 1,3 milhão de internautas e foi reproduzida por 500 weblogs individuais. Hoje, o número de visualizações já ultrapassou os 4 milhões e não há mais como contar o número de blogs que passaram adiante o recado de Obama.


 


O fenômeno voltou às manchetes nos últimos dias porque os políticos envolvidos na campanha presidencial norte-americana começaram a perceber que toda a estratégia de marketing eleitoral por meio da mídia convencional simplesmente não está funcionando entre o eleitorado jovem.


 


Mais do que isto. Estava criando uma imagem falsa das tendências políticas porque o sistema de veiculação de informações e de formação de opiniões entre os jovens, com menos de 30 anos, simplesmente caiu fora do controle dos grandes marqueteiros eleitorais.


 


E está fugindo também ao controle dos estrategistas editoriais de jornais, revistas, emissoras de televisão e rádio. Se estiver certa a tese do Se a noticia é importante, ela virá até mim,  o modelo editorial da imprensa terá que ser revisado porque ficará flagrante o seu anacronismo para a geração com menos de 30 anos — e que será a grande consumidora de notícias daqui a 20 anos.


 


As últimas pesquisas indicam que o caminho da notícia já mudou de sentido. Está ganhando cada vez mais intensidade o hábito de as pessoas sugerirem notícias a amigos e parentes. Há dois anos, eu tinha uns dois ou três amigos que faziam isso. Hoje meu correio eletrônico fica entulhado com recomendações de mais de 20 parceiros virtuais regulares e já não tenho tempo de ler tudo que me mandam.


 


Estão se multiplicando as comunidades de informação nas quais as pessoas trocam informações entre si. Mas, 80% dessas notícias ainda têm origem na grande imprensa e o restante em blogs e veículos alternativos.


 


Isto mostra que os jornais, revistas e emissoras de TV continuam sendo os grandes produtores de notícias jornalísticas, mas perdem rapidamente a capacidade de contextualizar a informação, elemento que foi, durante muito tempo, a sua principal ferramenta para incidir sobre o processo de formação da opinião pública.


 


Os amigos começam a substituir os jornalistas e editores como referência em matéria de relevância de notícias. Outra mudança não menos importante: a declaração de 30 segundos na TV, que os americanos chamam de “sound bite” , está trocada pelos vídeos mais longos, na preferência dos eleitores jovens nos Estados Unidos, como é o caso do discurso de Obama, com 37 minutos de duração.


 


Por outro lado, a presença cada vez maior dos jovens na Web está criando uma nova ferramenta eleitoral, o entretenimento-político. A música Yes We Can, gravada pelo cantor rapper Will.I.Am (um jogo de palavras que significa Eu Sou Will) em apoio a Barack Obama, já foi ouvida, em suas várias versões, por mais de 20 milhões de jovens norte-americanos no site You Tube. Will.I.Am integra o grupo Black Eyed Peas.


 


Jeff Jarvis, um bem-sucedido blogueiro e consultor em Web, cunhou a expressão press-sphere (midiasfera) para definir um ambiente informativo onde a imprensa não tem mais o monopólio da filtragem das notícias. A possibilidade de pular de uma fonte para outra usando os hiperlinks e a generalização das recomendações como ferramenta informativa estão transformando os leitores em editores de notícias.