Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Se foram comprados, entregaram a mercadoria

Um deputado e um jornalista conseguiram produzir a informação política mais original dos jornais de hoje.

O deputado é o tucano gaúcho Júlo Redecker. O jornalista é o repórter Thiago Vitale Jayme, da sucursal de Brasília do Valor.

O primeiro apurou e o segundo divulgou que os 18 deputados contra quem os relatores das CPIs dos Correios e do Mensalão pediram abertura de inquérito por quebra de decoro parlamentar formam o que o governo tinha de melhor na Câmara em matéria de fidelidade.

Analisando 108 das mais importantes votações nominais da Casa no governo Lula (até 17 de agosto passado), Redecker verificou que os integrantes da chamada ‘bancada do mensalão’ – que decerto inclui outros nomes ainda não identificados – votaram fechados com o Planalto em 90,2% dos casos.

Ou em 93,5%, descontados os votos do pefelista Roberto Brant – o único do grupo a não fazer parte da base governistas. Ele só acompanhou os outros em 1/3 dos casos. Os supostos mensalônicos foram ligeiramente mais leais até que os deputados do PT de Lula (89,9%) e os do PL de José Alencar (90%). E bem mais disciplinados que o pessoal do PTB (84%), PP (82%) e PMDB (81%).

Ou seja, se é verdade que eles puderam se abastecer nas contas de Marcos Valério porque aceitaram ser subornados para ajudar o governo, não se pode acusá-los de descumprir a sua parte no trato.

A ‘bancada do mensalão’, como diz o senador do PFL goiano Demóstenes Torres, ‘correspondeu às expectativas.

Em tempo: o deputado José Dirceu, um dos cassáveis, só participou de 7 votações importantes a partir de 16 de junho (até então era ministro). Votou sempre conforme o figurino. Já o petista João Paulo Cunha só participou de 18 votações do gênero a partir de 15 de fevereiro (até então era presidente da Câmara). Votou com o governo em 15 ocasiões.

Falando em matérias originais, impossível omitir a de Josias de Souza, na Folha de ontem, contando passo a passo a história da reunião secreta, na noite da véspera, entre Izeilton de Souza Carvalho – o ex-funcionário do restaurante cujo dono, assegura, pagou mensalinho a Severino Cavalcanti – com quatro deputados da oposição, no apartamento de um deles, o líder da bancada pefelista, José Carlos Aleluia.

Izeilton ‘chegou acompanhado do jornalista Alexandre Oltramari, intermediário da reunião’, informa Josias. Oltramari é um dos signatários da matéria que saiu no site da Veja, nessa mesma terça-feira, com o documento assinado por Severino que deve lhe custar, no mínimo, a presidência da Câmara.

A matéria de Josias não seria tão original se o jornalismo político brasileiro fosse um pouco menos preguiçosamente declaratório (o que os políticos dizem) e um pouco mais trabalhosamente apuratório (o que os políticos fazem).

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