Ao que tudo indica o fato mais importante das eleições presidenciais de 2006 não será o nome dos eleitos mas sim os sintomas de irritação, apatia e desilusão dos eleitores em relação à elite política que se reveza no poder no Brasil. O mais preocupante em tudo isto é que a imprensa, que teoricamente seria a principal porta-voz da cidadania, simplesmente ignora o que está acontecendo entre os eleitores e omite-se na sua responsabilidade em trazer ao debate a frustração do brasileiro comum em relação a aos partidos e aos politicos em atividade no país. Uma grande e honrosa exceção foi o comentario feito há uma semana pelo colunista e blogueiro da Folha de São Paulo, Josias de Souza que foi direto ao nervo da questão com um texto entitulado ‘A Irrelevância da Mídia’, no qual afirma que a imprensa nacional está perdendo o seu ‘propalado poder de influência’ sobre a opinião pública. Algo de muito sério está acontecendo no relacionamento entre o cidadão comum e a grande imprensa do Brasil. Ninguém até agora conseguiu explicar porque o presidente Lula mantém um alto índice de popularidade apesar do seu governo estar exposto a uma avalancha de denúncias de corrupção, que noutras épocas já teria provocado um impeachment. O volume de notícias negativas sobre o presidente Lula supera com folga os números dos demais candidatos presidenciais conforme levantamento feito pelo Observatório Brasileiro da Midia. Mas nada disto parece ter influenciado o eleitor, como ficou evidenciado nas pesquisas de intenção de voto. A imprensa assumiu sem questionamentos mais sérios na agenda ditada pelos partidos e com isto voltou às costas para o eleitor. O diretor do instituto de pesquisas Vox Populi, Marcos Coimbra identificou num texto publicado pelo site da revista Carta Capital cinco falsas idéias que a imprensa assumiu durante a campanha eleitoral. As observações de Josias de Souza e de Marcos Coimbra deveriam tirar o sono de muita gente na imprensa pois tem a ver diretamente com a inserção dos veículos de comunicação na sociedade brasileira atual. Mas tudo indica que o debate será abortado pela paixão eleitoral e pelo apelo fácil do rescaldo das apurações, pois o mundo politico, e por tabela também a imprensa, acabarão obcecados pela disputa de posições na conjuntura pós votação. A discrepância entre as pesquisas de opinião e a agenda da mídia não é um fenômeno novo. Há anos as manchetes dos jornais não guardam nenhuma relação com as prioridades dos leitores. A agenda continua sendo dominada por interesses políticos e econômicos enquanto a população se preocupa com segurança, emprego, saúde e educação. Mas até agora este divórcio não havia se materializado de forma tão clara numa eleição. Nunca ficou tão evidente que o público dá cada vez menos importância ao que dizem os jornais e valoriza apenas os seus interesses pessoais, sem se preocupar muito com os posicionamentos éticos da mídia e da elite política do país.