Dia de me dar uma folga da crise – a menos que ela mais uma vez me agarre pelo cangote, neste caso quando estiver antegozando o fim de semana.
Dia de pensar grande. Sobre este mesmo universo por onde deixo correr solto o meu verbo e por onde recebo do eventual leitor o comentário que eu e os meus personagens fizemos, ou não, por merecer.
Dia de ceder o verbo a uma voz um tantinho mais potente e um tantinho mais importante do que esta com que cometo a temeridade de sugerir que tenho idéias para trocar: a voz da página de editoriais do New York Times.
Assunto: nós mesmos, os blogueiros, e vocês, nosso distinto público.
Sob o título broxantemente burocrático – “Medindo a blogosfera” – eis um texto com números assombrosos e uma pensata entre o filosófico e o irônico sobre o que o editorialista considera “o estranho imediatismo da vida que passa diante de nós”.
Vamos lá. Abre aspas:
No começo da semana, Technorati, um website que indexa blogs, divulgou o seu relatório semi-anual “Estado da Blogosfera”. O relatório registra um crescimento contínuo e espantoso. Quase 80 mil blogs são criados a cada dia e já existem atualmente cerca de 14,2 milhões, 55% dos quais permanecem ativos.
Perto de 900 mil postings [textos para blogs] são acrescentados diariamente – um aumento firme, marcado por extraordinários picos depois de incidentes como o das bombas em Londres. A blogosfera – isto é, o reino virtual do bloguismo como um todo – dobra de tamanho a cada cinco meses e meio.
Se a blogosfera continuar a se expandir nesse ritmo, não tardará muito até que qualquer pessoa com acesso à internet seja um blogueiro, ou pelo menos um leitor regular de blogs.
A mídia convencional – este mesmo jornal, por exemplo – tem discutido frequentemente o crescente impacto do bloguismo na cobertura de notícias. Talvez o mais forte indicador da sua importância não sejam essas discussões em si, mas a frequência com que canais de mídia estão criando seus próprios blogs – ou assemelhados.
Este é o lado sério da blogosfera. Mas blogs são muitas vezes apenas uma forma de alguém aparecer na internet. É como uma câmara de vídeo em circuito fechado que capta um relance de sua passagem por uma vitrine de uma loja de produtos eletrônicos cheia de televisores.
Eis você aí em toda a sua glória, mediatizado de repente, se não para sempre. Ter seu próprio blog costumava exigir um certo conhecimento tecnológico. Agora você pode fazê-lo a partir de portais populares de web como MSN e AOL, usando instrumentos que tornam o trabalho quase tão fácil como mandar e-mails. Hoje em dia, um surpreendente número de pessoas escrevem para casa colocando textos nos seus blogs – isto é, escrevendo para todo mundo na terra.
É compreensível que se pense no crescimento da blogosfera como um mero fenômeno técnico. Mas é também um fenômeno profundamente humano, um meio de expandir e, em certo sentido, coisificar as efêmeras conversas diárias a que se dedicam as pessoas.
Todo dia a blogosfera captura um pouco mais do estranho imediatismo da vida que passa diante de nós. Pense nisso como a bolha global do pensamento de uma única e volúvel espécie.
Fecha aspas. Pela tradução, o blogueiro.