Por falta de profissionais qualificados e experientes, de tempo ou, sei lá, por preguiça mesmo, a mídia brasileira não se preocupa em relacionar a notícia que publicou ontem com a que está saindo hoje. O que importa hoje é dar a informação de dez em dez segundos. Assim, o que mais se vê nas páginas dos grandes jornais e nos notíciários da TV é um verdadeiro ‘samba do crioulo doido’’, principalmente na área ambiental. Uma notícia desmente a outra, e a gente fica sem saber qual delas é a mais correta. Ou, pelo menos, mais confiável. Veja os exemplos abaixo. São notícias e releases que saíram na mesma semana. Mas não vi, em nenhum veículo, uma análise :
Ar mais puro?
‘O ar que se respira nas metrópoles brasileiras está mais leve, graças a uma redução drástica nos índices de poluição dos carros. A emissão de monóxido de carbono (CO), um dos gases mais tóxicos para a saúde humana, foi reduzida em 99% nos últimos 20 anos, segundo levantamento divulgado ontem pelo Ministério do Meio Ambiente e o Ibama.
Na média, a emissão de gases veiculares foi reduzida em 94%, incluindo outros itens venenosos como hidrocarbonetos (95%), monóxidos de nitrogênio (94%) e aldeídos (92%). O impacto dessa redução repercutiu imediatamente nas estatísticas médicas e produziu uma economia estimada em US$ 1,3 bilhão em dez anos por conta de internações e tratamentos evitados. Além da evolução tecnológica, duas medidas são as principais responsáveis por esse sucesso ambiental: a substituição do carburador pela injeção eletrônica e a introdução do catalisador como componente obrigatório dos veículos que saem de fábrica.
Outro fator é o governo, que investiu, ao longo dessas duas décadas, em combustíveis alternativos menos poluentes, como o álcool e agora o biodiesel. ‘As medidas adotadas pelo Proconve colocaram o País na vanguarda da tecnologia e do combustível limpos’, disse o coordenador do programa, Paulo Macedo. (O Estado de S. Paulo. 12 de julho de 2006)
Menos poluição?
‘O governo anunciou hoje (31 de outubro) que o percentual de álcool na gasolina subirá dos atuais 20% para 23% a partir do dia 20 de novembro. A decisão do governo é vista com bons olhos pelo setor produtivo, uma vez que representa um mercado adicional de 60 milhões de litros mensais. No entanto, o setor volta a reafirmar sua convicção da existência de base técnica para a volta imediata à normalidade, ou seja, um nível de mistura de 25%. Este percentual traz ganhos ambientais expressivos nas cidades, sobretudo no que diz respeito ao monóxido de carbono e à formação de ozônio, importantes poluentes das grandes metrópoles.’’ (nota divulgada pela União da Agroindústria Canavieira (Única), em 31/10/2006).
Padrões mudaram
‘Todos os grandes centros urbanos do Brasil estão fora dos novos padrões mundiais de qualidade do ar, anunciados no último dia 5 de outubro pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A constatação é de Paulo Hilário Nascimento Saldiva, diretor do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. ‘O que a gente imaginava que fosse uma qualidade de ar boa, na verdade não é mais’, alerta o médico patologista. Paulo Saldiva e Nélson da Cruz Gouvêa, da FMUSP, foram os únicos pesquisadores brasileiros, especializados em poluição atmosférica, a participar do comitê da Organização Mundial de Saúde, que alterou os níveis mínimos recomendados para a poluição do ar em todo o mundo. A reunião do comitê foi realizada em outubro do ano passado, em Bonn, na Alemanha, mas somente agora a OMS divulgou os novos índices.
Pelos novos índices, a média diária recomendada para partículas inaláveis foi reduzida a um terço: passou de 150 µg/m3 (microgramas por metro cúbico) para 50 µg/m3. O ozônio baixou de 160 µg/m3 para 100 µg/m3 a média de 1 hora máxima. O dióxido de enxofre teve a média diária reduzida de 100 µg/m3 para 20 µg/m3. O dióxido de nitrogênio não sofreu alterações, permanecendo o índice de 200 µg/m3 para a média de 1 hora máxima. Outros poluentes não foram avaliados.
Na avaliação de Saldiva, a poluição do ar já deixou de ser apenas um problema ambiental e passou para a esfera da saúde pública. ‘A má qualidade do ar comprovadamente reduz a expectativa de vida, aumenta a mortalidade, leva ao abortamento e eleva os riscos de doenças cardíacas e de câncer’, afirma o patologista. Os novos padrões de qualidade do ar definidos pela Organização Mundial de Saúde, porém, dependem de decisões de cada governo para serem implementados. (Usp On Line, 26 de outubro de 2006).
Atenção pauteiros, uma pergunta básica, que diz respeito à sua própria saúde: Aquelas estações da Cetesb, que indicam a qualidade do ar em vários pontos de São Paulo, já estão seguindo os novos critérios da OMS?
É facil preparar esta matéria: é só falar com a USP e a Cetesb.