O que antes era um exercício de imaginação de gurus e futurólogos da Web começa agora ganhar uma base real em números. Os últimos dados sobre o fenômeno UGC (User Generated Content – Conteúdo Produzido por Usuários) revelam que 136,5 milhões de pessoas em todo o mundo devem publicar, em 2007, textos, gravações, filmes ou fotos na Web.
No ano passado, a participação total de usuários era de 118 milhões e as projeções indicam que se este ritmo de crescimento for mantido, em 2011, já serão mais de 238 milhões de pessoas usando a Web como ferramenta para divulgação de conteúdos informativos produzidos por elas mesmas.
O número dos criadores online é 10% menor do que os usuários que só consomem conteúdos produzidos por amadores ou pessoas comuns. O total de internautas que apenas visitam sites de criadores online foi estimado em 147,5 milhões em 2007, com uma projeção de 253,6 milhões dentro de quatro anos.
Os números consolidam a tendência de aumento da participação dos usuários em todos os segmentos da Web, o que assinala um fenômeno capaz de mudar significativamente vários conceitos, rotinas e valores da comunicação contemporânea.
Os números recolhidos pela eMarketer, uma empresa norte-americana de pesquisas de mercado com muitos negócios na área de marketing, podem estar muito influenciados pelo chamado “wishfull thinking” ( desejo de que algo aconteça). Também não se sabe até que ponto a pesquisa foi sugerida por algum cliente.
Mas mesmo que tudo isto seja verdadeiro, os dados mostram uma tendência irreversível à consolidação da Web 2.0 , cuja principal característica é a participação dos internautas na produção de conteúdos.
Metade, tanto dos que vêem como dos que produzem material produzido por pessoas comuns, vive nos Estados Unidos e a esmagadora maioria dos textos, fotos, desenhos, áudios e vídeos publicados na Web por pessoas comuns é formada por confidências, fofocas, fotos e vídeos de animais de estimação e de amigos.
Não há dados confiáveis sobre qual o percentual de usuários que publicam informações de interesse público na Web. O site Technorati, que monitora os weblogs na Internet chegou a estimar, há dois anos, em mais ou menos 15 milhões o total de páginas pessoais no mundo inteiro que publicam conteúdos que podem ser considerados informativos.
Os sites mais famosos e mais visitados no universo da Web 2.0 são o YouTube (publicação de vídeos amadores), o Flickr (fotos), MySpace e FaceBook (comunidades), usam conteúdos produzidos por amadores para atrair milhões de visitantes e com isto chegar a um faturamento global previsto para um bilhão de dólares até dezembro. A mesma eMarketer antecipa uma receita publicitária de US$ 4,3 bilhões em 2011.
É muito dinheiro com o trabalho dos outros. Mas não deixa de ser uma vitrine importantíssima, e além de tudo grátis, para quem deseja visibilidade por motivos profissionais ou simplesmente por egolatria.
O certo é que não dá mais para ocultar o fato de que a participação do público no processo da comunicação está ganhando dimensões inéditas na história da humanidade.
Estamos assistindo o início do fim de um sistema e a emergência de outro, o que vai implicar um período confusão e incerteza, como acontece em toda grande transição econômica e social.
Aos jornalistas e comunicadores caberá um papel crucial neste processo. Em vez de defender a velha ordem, eles podem usar seus conhecimentos e experiência para atuar como orientadores, treinadores ou consultores dos novos atores na arena informativa. O primeiro desafio seria desarmar os preconceitos mútuos entre profissionais e amadores em matéria de publicação de conteúdos online.
Conversa com o leitor
Viajo neste domingo para Lima, no Peru, para participar das discussões sobre e a criação de uma Rede Latino-americana de Observatórios da Imprensa. Regresso no final da semana. Por este motivo, o próximo post talvez seja publicado somente no próximo sábado.