A revista Veja que circula desde ontem confirmou o recorde da revista marcado na semana passada no quesito capas seguidas dedicadas a um único tema. A sombra de Marcos Valério sobre o Palácio da Alvorada, acompanhada da chamada ‘A CHANTAGEM – 200 milhões para ficar calado. A história secreta de como Marcos Valério emparedou o governo ao ameaçar contar tudo’, é a décima capa consecutiva da revista sobre a crise política.
O início da campanha noticiosa da revista começou de maneira contestável, em 18 de maio passado, na capa que trazia a resistência do ator Raul Cortez contra o câncer e a chamada no alto da página: ‘Exclusivo: o vídeo da corrupção em Brasília – a incrível seqüência do dinheiro saindo das mãos do corruptor. Mais diálogos inesquecíveis!’.
As cenas de obscenidade explícita do ex-diretor do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, trazidas pela revista, contudo, causaram impacto no Fantástico do dia seguinte. O olhar do funcionário corrupto conferindo o maço de dinheiro antes de enfiá-lo no bolso do paletó foi repetido e repetido nos dias seguintes. O descarado, diante da CPMI, disse depois que estava apenas bravateando quando digitou o ex-presidente do PTB, Roberto Jefferson, como chefe do esquema – e se lê cada vez menos sobre ele nos jornais e revistas.
A revista reconheceu, na Carta ao Leitor de uma das dez semanas em que jogou o escândalo na capa, que a repercussão do fato não teria sido a mesma sem a televisão. Não explicou, porém, porque abriu mão do furo jornalístico e fez a fita chegar graciosamente ao Fantástico, antes mesmo de concluída a distribuição para todos os seus assinantes. O cioso respeito que a revista diz ter com seus assinantes, no caso, pode ser igualmente interpretado como desrespeito aos direitos de consumidor que regem a lógica de mercado. Afinal, são esses mesmos assinantes que, como consumidores na ponta da linha, pagam pela informação que a revista produz. Mas até mesmo essa desconsideração com o público torna-se secundariam quando se verifica que, dez semanas depois de ter acendido o pavio da crise, os responsáveis pela revista ainda não explicaram como obtiveram a fita gravada pelo araponga Jairo Martins de Souza. Até hoje, depois do araponga ter dito à CPMI que sua filmagem foi movida por seus pendores jornalísticos, a história permanece nebulosa.
Empenho maior
Muitos leitores reclamam neste momento dizendo que a imprensa demonstra hoje um empenho em explicitar a bandalheira do PT com muito mais aplicação de quando vieram à tona histórias igualmente ou ainda mais cabeludas envolvendo os barões do tucanato durante as privatizações. O protesto não é descabido, e essa lembrança permanente dos leitores, exprimida em forma de protesto ou desabafo, cobra reflexão dos jornalistas.
O jornalista responsável por esse blog, dentro das suas limitações, relaciona abaixo algumas providências que podem ser muito úteis para espantar a suspeita crescente entre os leitores de que a imprensa age com dois pesos e duas medidas. E abre espaço para o recebimento de novas sugestões dos leitores para colaborar com o aprimoramento do trabalho jornalístico: