O site da revista Veja, neste momento, domingo, 21h15, não registra qualquer menção ao desmonte das ilações que sua edição impressa traz nesta semana sobre o futuro da economia do país, dando como líquido e certo que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, também foi tragado pelo lamaçal que há três meses mantém o Brasil atolado. O truque da revista mais vendida do país para colocar o ministro, por antecipação, no mesmo chiqueiro de dirigentes do PT e de outros partidos, é clássico. Frase por frase, evolui-se para a verdadeira intenção da revista, desde que trouxe a púbico o grampo ilegal dos Correios: não se tratou em todo esse período apenas de desmascarar parte dos antigos dirigentes do PT – o que é louvável –, mas de colocar todo o governo Lula no penico. Às frases e as ilações sub-reptícias. A primeira – ‘Denúncias atingem Palocci’ – joga no vazio ao trazer uma afirmação sem sujeito. A segunda – ‘A economia agüenta sem ele?’ –, capciosamente traz pergunta que já embute a previsão de que o ministro também será obrigado a deixar o governo por causa das denúncias. Mais abaixo, em desgravação de mais uma fita, desta vez providenciada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, a informação avassaladora: ‘Buratti agendava encontros da Máfia do Lixo com Palocci já ministro’, na qual Buratti passa de denunciante a denunciado com poder para pautar afazeres da Fazenda em atendimento a uma organização mafiosa. Esta última linha de títulos da capa foi devidamente posta sob a lupa de meu vizinho de blog, Luiz Weis. Em seus 40 anos de jornalismo, Weis diz que jamais viu ‘uma autoridade reduzir tão completamente a pó uma alegação irresponsável como esta, típica do jornalismo de esgoto praticada pela mais influente publicação semanal do país’. Recomenda-se a leitura na íntegra, e com particular atenção à ação premeditada da revista, que deixou de confirmar informação para fazer valer sua indução de que não só o ministro da Fazenda, mas também o presidente da República já era. Essa é a indução principal da edição desta semana, conforme mostra a foto de abertura das 17 páginas dedicadas à crise. A imagem de Lula nas sombras acenando com sua mão de quatro dedos e a legenda ‘A hora do adeus?’ – de novo, a conclusão embutida na pergunta – fala por si. Falta falar, agora, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que recebeu carta do ministro Antonio Palocci pedindo providências para fazer o Ministério Público de São Paulo trabalhar dentro da lei. Mais: falta o governador responder à grave denúncia da Folha de S.Paulo de hoje, na reportagem ‘Governo quer blindar Palocci para tranqüilizar mercado’, assinada por Kennedy Alencar, na qual se lê:
A revista deve explicação. Por que mentiu?
‘Lula ficou contrariado com o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Reservadamente, assessores presidenciais dizem que o secretário de Segurança Pública de Alckmin, Saulo de Castro Abreu Filho, providenciou o transporte da gravação do depoimento de Buratti de Ribeirão Preto para a sede na capital paulista de uma rede de TV. A gravação foi feita pela Promotoria. Para o governo, a rede de TV cumpriu seu papel, mas Saulo, não’.
Até o presente momento, nenhum serviço noticioso em tempo-real dos grandes jornais repercutiu a denúncia junto ao governo paulista.