Domingo passado, comentei aqui [“Palocci desmoraliza a Veja”] o relato do
ministro da Fazenda, na coletiva de imprensa daquele dia, sobre os bastidores da
“denúncia” da revista de que o seu chefe de gabinete, Juscelino Dourado, enviara
e-mail a Rogério Buratti pedindo ajuda, em nome do “chefe”, para a compra de um
aparelho de escuta telefônica clandestina.
Palocci contou que a Veja nunca enviou ao Ministério cópia do suposto e-mail,
como lhe fora solicitado depois de uma repórter da própria revista ter dito a
Juscelino que o remetente, afinal, era outro.
O silêncio da Veja, revelador do seu padrão de jornalismo, recebeu de minha
parte a avaliação que considero adequada para qualquer órgão de imprensa incapaz
de exibir nem sequer um indício palpável das suas eventuais acusações de suma
gravidade.
É possível que o comentário tenha levado alguém da Veja a pensar – não,
aparentemente, sobre a ofensa à ética profissional contida no episódio, mas
sobre a melhor forma de se vingar do comentarista.
Pensa daqui, pensa dali, pode-se imaginar, finalmente um cérebro privilegiado
teve o proverbial estalo de Vieira. O resultado de tanta criatividade está na
edição que chegou ontem às bancas.
No bloco que fecha a seção – ironicamente intitulada, no caso — “Veja essa”,
a revista cita quatro pessoas a quem se aplicaria o tituleto “Dá para trocar de
nome, mas nem sempre de biografia”. Uma delas sou eu.
Diz o microtexto de 26 palavras que me tocou nesse exaustivo empreendimento
de jornalismo investigativo, sob o chapéu em duas linhas “Antes Luiz Wejs /
Depois Luiz Weis:
‘Trocou o ‘j’ pelo ‘i’ para facilitar a leitura do nome e tentar subir no expediente das publicações em que trabalhou. Mas seu sonho foi engavetado.’
Eu não conseguiria exemplificar tão perfeitamente o tipo de jornalismo
praticado na Veja – e isso na mais benigna das hipóteses — como o que emana
dessas palavras.
Benigna porque o texto contém uma verdade sabida por quem me conhece:
troquei, sim, o “j” pelo “i” para “facilitar a leitura do nome” (a rigor, do
sobrenome). Pelo mesmo motivo, registrei com “i” o sobrenome dos meus três
filhos.
O resto é Veja pura: duas mentiras. Não injuriosas, não caluniosas, não
difamatórias. Apenas indigentes.
Indigente é a ridicularia de dizer que troquei uma letra do sobrenome para
“tentar subir” no expediente das publicações em que trabalhei (Veja, entre
elas).
A quem interessar possa, o abrasileirado “Weis” apareceu em letra de forma na
primeira matéria que assinei, lá se vão quarenta e poucos anos, no Estado de
S.Paulo, publicação (como todos os jornais ou quase) em cujo expediente aparecem
apenas os nomes dos que a dirigem.
Não menos indigente é a mentira de que meu sonho “foi engavetado”. Quem
mandou escrever, ou escreveu, e afinal aprovou a nota boba, finge não saber que
meu sonho foi realizado – se é que disso se trata – em outra bem-sucedida
publicação da mesma editora da Veja, da qual fui um dos criadores e seu
redator-chefe, e onde obtive um Prêmio Esso.
O melhor é que o meu sonho continua se realizando – neste blog e no
Observatório da Imprensa, por exemplo. O dos manda-chuvas da Veja decerto
também, se, como tantas vezes parece, eles sonham em torturar os fatos até que
caibam nessa contrafação de jornalismo honesto que oferecem ao incauto
leitor.