O jornalista-responsável por esse blog presume que virou ‘gente de pouca imaginação’. Essa conclusão apóia-se na suposição de que talvez tenha sido o único a apontar um erro primário de edição da semana passada da revista Veja: a não identificação de um personagem importante na reportagem que denunciou o publicitário Duda Mendonça como um dos megalavadores de dinheiro sujo do Brasil.
Para lembrar o leitor, o Contrapauta do último dia 16 apontou que a revista ‘decerto se esqueceu de identificar’ a presença de Nelson Biondi na foto como terceiro personagem de uma cena compartilhada com Duda Mendonça e Paulo Maluf. Para cobrir o buraco deixado aos leitores da revista, o Contrapauta acrescentou que o desidentificado ‘tornou-se o principal marqueteiro do candidato do PSDB, José Serra’, nas eleições de 2002.
A revista corrige-se nesta semana, com a soberba e a grossura habituais.
Junto com a republicação da foto que motivou o comentário¸ justifica-se, reconhecendo a existência de Nelson Biondi na foto, com texto que infiel à imagem reproduzida. Como de costume. Nela, um cidadão (o desidentificado) confere algo que Duda Mendonça lê em voz alta para um interessado Paulo Maluf. A revista transformou essa situação em ‘conversa’ para sustentar o desengonçado mea culpa:
Ao fundo, sem tomar parte na conversa, aparece Nelson Biondi, então sócio de Duda, que viria a ser o publicitário nas eleições de 2002.
Biondi não foi citado na legenda da foto por duas razões: não foi notado, por estar em segundo plano, e não estava diretamente relacionado com a história relatada na reportagem.
fac-simile da foto que resultou no comentário
Chega a ser engraçada a justificativa de que o então sócio do Duda Mendonça ‘não foi notado’. Das três uma, ou o autor do texto pensa que todos somos bobos, ou não tenha conhecimento sobre o personagem que foi alvo de suas denúncias, ou, talvez, faltem óculos para os responsáveis pela reportagem de capa da semana passada.
A desculpa de que o publicitário não-identificado ‘não estava diretamente relacionado com a história relatada na reportagem’ é igualmente esfarrapada. Ela apenas evidencia que há ignorância demais ou vontade de menos de relatar a história como ela é. A não ser que Duda Mendonça tornou-se ‘bandido’ apenas nos últimos três anos.
Ficam, pois, as perguntas:
Duda Mendonça passou a ser ‘bandido’ a partir de 2002? Esqueçamos sua vida pregressa?
O sócio sem identificação nada tem a ver com o histórico de chefe de lavanderia, cargo a que Veja imputa a Duda Mendonça?
Um caso só é criminal e verdadeiro quando é relatado pela revista?
Na verdade, trata-se de um sósia que o desindetificado contratou naquela noite? Um álibi para posteriormente desobrigar o personagem sem nome a testemunhar sobre o que Duda lia para Maluf?
O problema é com os leitores da revista? Não vale aprofundar porque eles não têm memória pré-2002?
Ou tratou-se mesmo de um erro colossal?
Porque raios, afinal, o marqueteiro ‘bandido’ é relacionado apenas com Paulo Maluf na reportagem?
A última: colou a desculpa de que Biondi não ‘foi notado’?
O trecho que leva o jornalista-responsável pelo Contrapauta supor que tenha sido o alvo da costumeira execração com que a revista ataca desafetos é o seguinte:
Teorias conspiratórias elaboradas por gente de pouca imaginação julgaram ter havido aí uma intenção de proteger José Serra, omitindo seu marqueteiro. VEJA não protege nem persegue ninguém. VEJA trabalha com fatos e responsabilidade jornalística, cumprindo sua missão, que tanto incomoda incompetentes e corruptos de todos os naipes.
Mas, ao reler novamente a íntegra do Contrapauta citado, o jornalista-responsável reconsidera: há também a possibilidade de a investida da revista ter outro destinatário. A razão para a dúvida é simples: o comentário sobre o ´esquecimento` da revista não diz que Veja protege o candidato do PSDB, tampouco traz qualquer ‘teoria conspiratória’, e muito menos conclui que Veja proteja ou persiga alguém.
Só mesmo um desavisado poderia imaginar que a revista, sem a menor cerimônia, seja capaz de difamar quem quer que seja. A ‘responsabilidade jornalística’ cumpre a missão ‘que tanto incomoda incompetentes e corruptos de todos os naipes’. De todos os naipes.