A velocidade da oscilação da popularidade do presidente Lula na pesquisa CNT/Sensus mostra, de duas, uma: ou que a pesquisa, como pretende demonstrar hoje (16/2) na Folha Janio de Freitas, é furada, ou que a cobertura jornalística, apesar de todo o seu dinamismo, que às vezes chega às raias da alucinação, ainda é lenta quando se trata de captar mudanças um pouco abaixo da superfície.
Para o bem da imagem profissional da mídia, é urgente virar essa pesquisa pelo avesso. Ouvir especialistas, políticos, gente que tem muita vivência do assunto. O prefeito do Rio, César Maia, considerado bom leitor de pesquisas, foi o primeiro a pôr a boca no trombone.
Se a pesquisa for furada, é necessário que a mídia promova a devida execração dos responsáveis, porque se trata de ludibriar a fé pública, e em assunto de alta sensibilidade. Mas isso de modo algum pode ser um linchamento midiático. E não vale usar insinuações, declarações em “off”, coisas do gênero. Tem que ser de peito aberto.
Existe forte probabilidade de que as diferenças de resultado se devam de fato a diferenças metodológicas.
Nesse caso, o que se percebe é que os institutos de pesquisa e a mídia não divulgam com a devida clareza os métodos usados.
Se uma pesquisa é feita com outra metodologia e por isso apresenta resultados dissonantes, é preciso que essa diferença seja explicitada com toda a clareza. Caso contrário, trata-se de uma forma de manipulação.
Os institutos sabem direitinho quais são as diferenças de método. Só não as comunicam claramente à imprensa. Diminuiria o efeito político da pesquisa, que sempre beneficia alguém. Pode-se dizer que tudo isso é muito técnico e tedioso. Mas sempre se pode tentar uma maneira de traduzir em linguagem acessível. Não é essa a tarefa cotidiana do jornalista?
Margens de escolha
Mesmo em relação a pesquisas não contestadas, como as do Ibope, a imprensa tem custado a se dar conta da mudança de humor da população. O presidente Lula começou a recuperar popularidade há meses. Os jornais demoraram para metabolizar o fenômeno.
Não tendo registrado devidamente, nem entendido direito, o que aconteceu em 2005, a imprensa se esbalda desde já em tentativas de prever o comportamento do eleitorado em outubro próximo.
É preciso levar em conta que as opções existentes são escassas.
Todos os partidos em destaque hoje são os mesmos que emergiram da redemocratização de vinte anos atrás. Com alguns desdobramentos relevantes, a saber: o PSDB foi inicialmente uma costela paulista que se despregou do PMDB (1988), e o PT pagou o preço de se tornar uma estrutura partidária convencional (desde 1995, sob a direção de José Dirceu).
Mesmo assim, o eleitor tem considerável margem de manobra: vota cinco vezes na urna de 2006 – presidente, governador, senador, deputado federal, deputado estadual – e isso permite muitas combinações diferentes.