O Washington Post, um dos quatro mais influentes jornais americanos – ao lado do New York Times, do Wall Street Journal e do Los Angeles Times – decidiu fechar as portas aos comentários dos leitores de um dos seus blogs.
Em junho, passados apenas dois dias da iniciativa, o Los Angeles Times havia dado por encerrada a experiência de permitir aos leitores da edição online que reescrevessem os editoriais do jornal. O ensaio de interatividade acabou porque o site começou a receber material pornográfico.
É um alerta para jornalistas e internautas.
No caso do blog do WP, que foi para o ar pela primeira vez em 21 de novembro, os comentários foram barrados porque “um número significativo de leitores”, segundo o editor-executivo Jim Brady, mandava palavrões e ataques pessoais.
Nos demais blogs – o jornal tem três dezenas deles – nada mudou.
Nos blogs do Observatório da Imprensa, como este Verbo Solto, comentários que contenham calão ou agressões são excluídos ao serem flagrados. Mas não há censura prévia: o que o leitor escrever entra; se a mensagem contiver ofensas ou expressões impublicáveis, sai. O problema é que às vezes elas ficam tempo demais no ar até serem suprimidas.
No caso do Verbo Solto, onde não raro as participações são furiosas, em especial contra a mídia, estimo que 3% a 5% dos comentários transgridam as normas do blog – que valem também para o blogueiro – tendo de ser eliminados. Os demais continuam bem-vindos.
Os casos do WP e do LAT dão o que pensar sobre os limites daquilo que os mais entusiasmados com a multiplicação de blogs chamam “a grande conversação”.
Afinal, a livre expressão do pensamento e a ampla troca de idéias proporcionadas pela Internet não podem atentar contra a civilidade, sem a qual o debate público degenera em briga de torcidas de futebol.
No Post, o alvo foi a ombudsman do jornal, Deborah Howell. Por causa de um artigo sobre os políticos que se beneficiaram do notório lobista Jack Abramoff, choveram críticas ferozes ao seu texto no blog. Ela respondeu dizendo que tinha sido mal-interpretada. Foi inútil: o insultório só fez aumentar.
Duas pessoas foram escaladas para eliminar do blog as mensagens com injúrias e os palavrões. Não deram conta do recado.
Ouvida pelo New York Times, Joan Walsh, a editora-chefe da respeitada revista eletrônica Salon.com, aberta aos internautas, acha que a virulência contra a ombudsman do WP resultou do fato de o jornal representar a grande imprensa dos Estados Unidos – que, no clima de polarização política do país na era Bush, apanha da direita e da esquerda.
Explica, mas obviamente não justifica.
De seu lado, Jim Brady, o editor-executivo do Post, informou que está considerando a hipótese de, no futuro, filtrar os comentários antes de publicá-los, mas admitiu não gostar da idéia.
Ele programou para a semana um debate pela Internet entre blogueiros e outros jornalistas “para aprofundar o exame das difíceis questões que o episódio levantou, especificamente como assegurar que o diálogo entre a mídia e os seus consumidores possa florescer online”.
Esse é um desafio para nós também.
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Serão desconsideradas as mensagens ofensivas, anônimas e aquelas cujos autores não possam ser contatados por terem fornecido e-mails falsos.