Os compartilhamentos e as curtidas fazem com que qualquer marca ganhe respaldo perante a sociedade em rede fazendo com que, advogados de marcas sejam criados e construídos a partir do protagonismo do receptor da informação no ciberespaço. Este cenário propõe que todos nós possamos ser além de compartilhadores; criadores, reconfiguradores, sintetizadores e jogadores de conteúdo.
O que poderia ser bom, vem elaborando um novo contexto que se torna negativo. Certamente, você já leu, recebeu e/ou enviou alguma notícia que parecia ser verdadeira e, no entanto, dias depois descobriu que era falsa. Tudo isso porque você recebeu de um amigo de confiança ou familiar que já havia recebido de outra pessoa no privado ou em um grupo dos aplicativos de smartphones.
Pois é! Você foi vítima de ‘Fake News’! Essa é a palavra que vem centrando a sociedade brasileira desde o início de 2018. Muitas são as ações e tentativas para coibir o efeito que pode ser devastador em todos os segmentos, especialmente na política, afinal, o fake news é a arte de manipular as multidões em virtude de sua linguagem fácil e destinada a um público que já tenha uma opinião desfavorável em relação aos personagens envolvidos na mentira criada.
Ora, sabemos que ele existe, mas afinal, de onde ele veio? Como se deu sua construção? Quais as pessoas que são vulneráveis a isso? Primeiramente, o fake news é o produto da ‘Pós-verdade’ (termo empregado no final da década de 90 pelo dramaturgo Steve Tesich, para ele o mundo teria entrado nesta era em virtude das redes sociais e da própria internet.) A fragmentação das fontes noticiosas criou um mundo atomizado em que mentiras, rumores e fofocas se espalham numa velocidade alarmante.
São elas, as mentiras compartilhadas em rede cujos integrantes confiam mais uns aos outros do que qualquer veículo tradicional fazendo com que tenha aparência de verdade, este cenário que parece ser assustador, traz à tona uma visão muitas vezes confortável que relativiza quando não se omite totalmente a responsabilidade da própria mídia na eclosão deste fenômeno. Em contrapartida, se vivemos no reinado da pós-verdade, por dedução e lógica, teria havido antes uma época de pura verdade na mídia onde o cidadão poderia confiar cegamente.
Não, caro leitor! Não quero que pense que estou te induzindo a pensar ou confiar apenas nas grandes mídias centralizadores de poder da comunicação, pelo contrário, estamos abrindo uma reflexão do seu papel enquanto receptor de informação e compartilhador de conteúdo, até porquê, os indivíduos e os veículos que mais alertam contra o perigo das notícias falsas e da política da pós-verdade são os maiores disseminadores delas. Especialmente partidos políticos que buscam na ilusão da rapidez, agilidade e da ‘imparcialidade democrática’ um falso equilíbrio à custa da verdade, promovendo assim o discurso de ódio e o controle da política.
É inevitável que como reflexo fiquemos expostos a mídia que cultiva o pensamento único e talvez faça da pós-verdade a causa maior para perda da credibilidade que afeta a política. Talvez se tivéssemos uma imprensa que se acreditasse de fato e estivesse a serviço para todos, que tivesse o rabo preso com o leitor ou telespectador, que fizesse a diferença onde quer que estivesse, não estaria padecendo da desconfiança, tanto do público de esquerda como o público de direita.
O fato é que estamos vivendo numa Matrix, onde o “eu não sei em quem acreditar” e o “eu não sei em quem confiar”, impera e nos traz consequências reais, tendo em vista que toda e qualquer mentira tem uma alta porcentagem de verdade para ser mais crível, tendo ainda maior eficácia a mentira composta totalmente por uma verdade.
Considerando o outro e o diálogo como centrais no século 21, como devemos proceder para controlar as notícias falsas? A resposta é mais complexa do que imaginamos. Primeiro, porque no ambiente digital tem-se uma organização em escala global e de acesso difuso para parte significativa da população mundial que não tem 20 anos. Isso significa que estamos experimentando novidades tecnológicas diárias em uma velocidade de transmissão exponencial em que ainda não conseguimos mensurar quais serão os impactos disso nas pessoas.
E o segundo o perigo do controle político em virtude de estarmos sendo influenciados pelos algoritmos que orientam os aplicativos e sua arquitetura computacional nas redes. O reflexo? Não sabemos como funcionam, não estamos cientes de como e quem define o que aparece em nossa timeline e muito menos quem tem o controle de tudo isso.
Finalizando, a combinação do ódio e do controle político difundidos pelas notícias falsas coloca-nos na mesma condição dos personagens de George Orwell no livro 1984. “Se avançarmos neste caminho, podemos terminar com um ministério da verdade – público ou privado” -, criado para combater as notícias falsas, mas que, na prática, retira as nossas liberdades e nos deixa sem saber quem realmente está produzindo as fake news sobre política e tantos outros temas.
**
Rodolpho Raphael é professor, jornalista, especialista em Mídias Digitais, Comunicação e Mercado, mestrando em Computação, Comunicação e Artes com linha de pesquisa – Mídias em ambientes digitais. Criou e atualmente é coordenador dos cursos de Publicidade e Propaganda e Marketing da FPB.